AdA #04 Anan (Autor de NPS)
Uma foca Alpha para alegrar o dia da Kay nessa terra sem mel, como um farol de esperança neste arquipelago reinado pela decepção.
- Arte feita por Anan
Comentários sobre a Fanart — Grovy
Como todos sabemos eu adoro foquinhas E ESSA ESTÁ PERFEITAMENTE REDONDA COMO TUDO DEVE SER ENTÃO MEU DIA FOI ALEGRADO.
Obrigado pela arte e malz pela demora Anan S2
Dois Anos de NPD
Capítulo 9
Encostado na varanda de sua cabine estava Oliver. O rapaz apoiava um dos braços na proteção enquanto em sua mão oposta uma xícara de café amargo era levada à boca e tomada a goles lentos enquanto pensava.
Desde o dia anterior não vira sua nem tão requisitada hóspede, ela simplesmente sumira ao entardecer, mas como ela deixara suas coisas ele não se preocupou. Porém, ao acordar no dia seguinte o garoto notou que os pertences dela haviam desaparecido na calada da noite, e onde antes havia uma grande mochila e alguns papéis existia apenas uma pequena folha de papel meio amassada e de caligrafia apressada.
' Olá, ontem descobri que tenho uma doença gravíssima e me restam poucas horas de vida. Não quero que vocês chorem então decidi ir sem me despedir. Até nunca mais! '
“ QUE TIPO DE IDIOTA ELA PENSA QUE EU SOU?! ”
Ela se fora tão inesperadamente quanto surgira e ele obviamente revistou o cômodo, vendo se alguma de suas coisas haviam sumido, porém tudo estava em seu devido lugar, derrubado ou jogado pelos cantos como de costume.
Agora tudo o que restava no quarto eram as coisas bagunçadas do jovem e uma estranha névoa que pairava no ar.
Aquela névoa o incomodava. A cada gole em seu cafézinho ele reparava mais, não parecia ser natural, era como se a névoa tivesse início em seu quarto e formasse um caminho direto para a ilha que estava à frente dele.
Ah, aquela ilha era definitivamente algo que não se vê todos os dias. Por um momento sua mente se distraiu do problema que tinha e pensou com seus botões que sua companheira de viagem gostaria do lugar.
...
Kai estava agitada,
mais do que sua agitação costumeira. Esse era o dia em que ela
chegaria em Honey, a tão aguardada ilha e seu objetivo para estar
viajando. Sua animação, porém, se dava por outro motivo. A jovem
estava ansiosa para conhecer o local. Já vira fotos do lugar na
escola e na internet, mas não era a mesma coisa, queria ver por seus
próprios olhos. Qual o sentido, afinal, em viver pela ótica dos
outros?
Se esforçou para não ter algum “spoiler” do lugar pelas janelas até que conseguisse chegar ao deque superior, onde teria a melhor vista possível. Andou até a lateral que estava de frente para a ilha olhando para baixo, até que levantou a cabeça, e se pegou admirando boquiaberta a magnitude do local.
Era bem maior que as últimas duas onde estivera, as construções em especial se mostravam imponentes comparadas as anteriores. Mas esse não era o ponto de destaque. A cereja do bolo, a parte mais chamativa, estava bem no centro da ilha.
Uma gigantesca árvore se erguia imponente. Seu tronco era espesso, certamente deveria ter no mínimo um quilômetro de altura. Suas raízes eram como Serperiors que adentravam pelas ruas formando uma paisagem única, juntamente as casas que foram construídas não destruindo, mas se adaptando a planta que subia pelas paredes. Seus galhos eram como vigas que sustentavam a grande folhagem que exibia cheia de pompa e formava uma espécie de guarda chuva, como se protegesse aquele pequeno cantinho do universo das tempestades de mal que existiam por aí, a guardiã daquelas pessoas.
Ao redor da ilha, em tamanho bem menor, era possível ver pequenos pontinhos amarelados entre a vegetação natural, alguns estáticos e outros aos quais podia jurar estarem se mexendo.
A agitação anterior da garota fora dobrada, aquilo era muito melhor do que qualquer descrição que tivesse lido, era tudo tão... Incrível!
...
Após algum tempo de viagem o navio ancorou no porto da cidade, era pequeno, menor do que se esperaria em uma cidade com tamanho potencial turístico, porém era simples e aconchegante. Algumas pessoas esperavam para desembarcar, todas pareciam bem calmas, quer dizer, quase todas. Uma garota jovem entre a meia dúzia de expectadores encontrava-se impaciente batendo seu pé no chão em um ritmo acelerado. Em seu ombro, um pequenino pássaro de coloração esverdeada repousava.
Desembarcando juntos estavam Kai, Oliver, Rafaella e Ayla. Os quatro andavam devagar, não que tivessem escolha, já que não poderiam pular as pessoas em sua frente. Mas estavam tão lentos que algo chamara atenção do garoto. Mais abaixo, próximo a costa aquele rastro de névoa continuava, como se a névoa magicamente escolhesse não adentrar a ilha mas sim lhe circular, seguindo pela costa, quase um chamado para ir atrás.
“ ESSE LUGAR É ENORME! ” disse Kai ao finalmente alcançar terra firme.
Ayla e Oliver também não conseguiam disfarçar seu encantamento pelo local.
“ Nem é pra tanto.” Rafaella falou um pouco atrás dela. A garota, diferente dos outros três, não parecia nada impressionada. Pelo contrário, parecia querer sair dali o mais rápido possível.
“ COMO NÃO?! OLHA PRA'QUILO! ” exclamou Kai apontando com o indicador para a árvore, que se mostrava ainda maior vista de perto. “ EU QUERO IR LÁ! ”
Rafaella estava prestes a continuar sua discussão quando uma voz feminina a interrompeu.
“ MANINHA! ” após isso, uma garota pulou em direção a ela, lhe puxando para um abraço apertado. “ Que saudades! ”
Ela era alta, e tinha seu cabelo bem mais curto que o da irmã, porém também espetado. Usava uma camisa verde de botão com um nó amarrado na cintura, na cabeça um laço vermelho. Em seu ombro curiosamente estava um Xatu, imóvel e sem piscar, mesmo com toda aquela movimentação.
“ Tá bom, tá bom! ” a mais baixa tentava escapar do abraço sem muito sucesso.
O resto do grupo parecia bem perdido com a aparição repentina. Na verdade, nenhum deles tinha sequer noção de que sua amiga tinha uma irmã, nem mesmo Ayla.
“ Quem é você mesmo, 'hein' colega? ” a última perguntou, surpresa.
Rafaella tentou começar a falar mas foi imediatamente interrompida.
“ Eu me chamo Francesca, mas podem me chamar só de Fran. ” disse enquanto dava uma piscadinha. “ E vocês, quem são? ”
Após uma breve apresentação do grupo ela parecia ainda mais contente.
“ Amigos da Rafinha são meus amigos também, 'cês' querem conhecer o lugar? EU CONHEÇO OS MELHORES PONTOS! ”.
“ Eu já disse pra não me chamar assim... E você não precisava ir em algum lugar? Eu posso te levar. ” Rafa perguntou olhando para Kai em uma última esperança de conseguir escapar daquela indesejável reunião de família.
“ É mesmo, quase ia esquecendo! 'Pera ae'. ” abriu sua mochila e começou a procurar por algo. Em meio a algumas pokeballs e mudas de roupa ela encontrou um pedaço de papel, meio amassado e em um leve tom rosa. A caligrafia precisa e caprichada de sua tia era fácil de reconhecer, bem diferente de sua própria. “ Vocês conhecem um tal 'Sweet Queen'? ”
Enquanto terminava de recitar as palavras a breve esperança nos olhos de Rafaella ia se esvaindo ao perceber onde ela precisaria ir. Fran, no entanto sorriu com a cena.
“ Claro que
conhecemos, essa loja é da nossa família! ”
...
As ruas de Honey eram curiosas, para dizer o mínimo. Toda a cidade fora construída cercando a gigante árvore ao centro, portanto, as casas formavam um círculo que lentamente se elevava em altitude conforme se aproximava da zona central.
As longas galhas, com sua folhagem abundante, traziam frescor a cidade, enquanto os raios de sol achavam seu caminho entre os ramos, sempre mantendo algum nível de calor, nunca em excesso, além de trazendo maior belez ao local.
Kailani andava maravilhada pelo local, tudo era interessante demais para ela. Sejam as raízes que forçavam caminho entre o concreto, as belas flores amarelas que floresciam por toda a ilha, as folhas que caiam e forravam as ruas, os Combees que voavam agitados sobre as últimas, e uma estranha espécie de pokemon com chifres ao qual ela nunca vira andando tranquilamente pela cidade. Ela fazia questão de apontar sua pokédex para cada criatura que encontravam, atrasando aquilo que deveria ser rápido.
No momento, apenas Kai, Rafa e Ayla andavam juntas. Oliver e Fran se separaram do grupo ainda no porto, o rapaz relatou precisar resolver algo na costa da ilha, oportunidade essa imediatamente aproveitada pela garota de cabelos espetados para empurrar a irmã para junto do outro sem a menor cerimônia, alegando que ele precisaria de um guia, ignorando qualquer tentativa do jovem de negar a companhia não requisitada.
Conforme elas caminhavam encontravam alguns dos residentes. Todos eram amigáveis e se alegravam ao perceber a presença de Rafaella. Era curioso que em sua grande maioria eram pessoas com certa idade, havendo poucos jovens pelas ruas.
“ Ei, Ayaya, você acha que ele tem dono? ” a garota de cabelos cinzentos perguntou em mais uma das paradas sem aviso. Estava próxima a uma árvore, agachada com as costas encurvadas para a frente, uma mão se apoiava nos joelhos e a outra usava um graveto para cutucar um preguiçoso Meowth que não parecia se importar o suficiente com a presença dela. Por alguma razão, um pequeno grupo de Cutieflys sobrevoava sua cabeça, mesmo que ela não notasse suas presenças.
“ Tá sem coleira. ” constatou em resposta.
Tomou aquilo como um sim trocando o objeto que segundos atrás era usado para cutucar o felino por uma das pokéballs de seu bolso, para então se aproximar lentamente.
“ Ei pequenino, quer ser meu amigo? ” susurrou.
O Meowth, até então tranquilo, percebendo a aproximação saltou de sua posição relaxada, rosnando e acertando a mão dela com um inesperado Scratch. O ataque surpresa a desequilibrou para trás, fazendo-a derrubar a esfera no chão e assustar as criaturinhas que a seguiam pela ilha. Ayla e Rafa ao perceberem o que aconteceu rapidamente se voltaram a ela, preocupadas.
“ Ei, cê tá bem? ” a primeira perguntou, lhe ajudando a levantar. Kai meneou que sim.
Rafaella parecia mais tensa e tomou sua mão com gentileza, analisando a marca dos três cortes, o sangue escorrendo lentamente por ela.
“ Não parece profundo, cê vai ficar bem. ” aliviada, tirou da bolsa que carregava uma garrafinha térmica e a abriu sobre as marcas. A água gelada lhe deu um leve arrepio mas logo trouxe alívio a dor que sentida. “ Eu devia ter avisado, mas os pokemon daqui não são muito amigáveis com treinadores, por isso se você quiser capturar algum precisa atrair ele com alguma coisa, em especial com o mel local. ” ela falava com calma, enquanto lavava a ferida que já não sangrava mais. Parecia saber o que estava fazendo.
“ Brigado. ” agradeceu, com uma voz de mosquito, quando a outra terminou. Olhou para onde o felino estivera confirmando que ele se fora. “Acho melhor a gente ir andando.”
O caminho que seguiram as levaram até uma rua bem próxima ao local onde estariam as raízes da árvore, entretanto estas não podiam ser vistas pois ao redor da "estrela" do lugar outras árvores comuns a rodeavam, bloqueando qualquer visão.
“ Bem... Chegamos. ” Rafaella disse enquanto apontava para a loja em sua frente.
O estabelecimento era grande. Possuia duas portas de carvalho escuro no centro e vidraças aos lados exibindo potes de mel em variados tamanhos e embalagens. Mais acima as palavras “Sweet Queen” foram escritas em tinta amarela de modo que a fazia parecer estar quase pingando, simulando seu principal produto.
Kai parou na porta e respirou fundo, sua "mini jornada" estava chegando ao fim. Após entrar e cumprir seu objetivo ela poderia voltar para casa, voltar a sua monótona rotina em sua pacata ilha. Os últimos dias foram divertidos, mas ela sabia que esse momento chegaria.
“ Sabe, acho que vocês duas podem entrar sem mim, eu espero aqu... ” Rafaella começou a falar quase no mesmo instante em que Kai avançou para dentro. “ E ela já foi. ”
“ Ô DE CASA! ” empurrou a porta, que se abriu atingindo um sininho, que tilintando ajudava a avisar sua chegada aos donos do lugar, não que isso fosse necessário depois da gritaria.
A loja mantinha em seu interior o mesmo aspecto visto do lado de fora, com as estantes e o balcão sendo de madeira espessa. Este último, como de praxe, separava a área dos clientes do espaço do caixa. Num canto mais escondido, curiosamente, alguns pinceis, baldes e potes se localizavam.
De uma porta no fundo com alguns panos impedindo a visão, uma senhora saiu parando atrás do balcão. Era baixinha e usava roupas simples de manga longa manchadas com liquido amarelado, suor pingava por sua face. Encarou as três. Uma expressão confusa surgiu em seu rosto ao perceber determinada presença inesperada, e assim rapidamente virou o rosto após encarar Rafa. Kai não sabia dizer se ela estava irritada ou apenas surpresa.
“ Dia, querem algo? ” a dona perguntou sem a cortesia geralmente esperada para com os fregueses. Não olhava diretamente para elas, e aparentava mexer em algo no balcão.
Ayla, percebendo que as duas garotas em sua frente não tomariam iniciativa nenhuma tomou a dianteira. Encostou a palma de sua mão nas costas de Kai, lhe causando um leve arrepio e com um empurrão a impulsionou na direção do balcão.
“ Fala tu. ” cochichou durante o processo.
A pobre garota nem teve tempo de reclamar com ela, rapidamente se recompôs do susto e começou a falar.
“ Opa, err... Eu quero mel, vim comprar mel. ” disse meio nervosa.
Normalmente ela era falante e se dava bem com pessoas, mas o clima ali era estranho, não era necessário ser a pessoa mais observadora do mundo para notar as semelhanças entre a senhora e a amiga para deduzir serem mãe e filha.
“ Nunca imaginaria que você pediria isso. ” a tal "mãe" revirou os olhos.
Caminhou até os fundos da loja e não tardou em voltar carregando um pequeno pote de plástico com tampa avermelhada, esta marcada com as iniciais da loja e algumas informações menores, tabeladas. O líquido amarelo quase transbordava no frasco.
“ Aqui está. ”
Kai encarou o frasco com alguma decepção. Era óbvio que não seria o suficiente para suprir o estoque que precisava.
“ Acho que tivemos um engano... ” tentou começar a falar até ser interrompida.
“ Engano? Isso é mel. ” disse abrindo o pote mostrando o interior. “ Você pega e passa em uma árvore. É oferecido no pote, não tem como errar. ”
“ Então, é que na verdade não é bem isso que... ”
“ Ah, claro, esses jovens sempre sabem o que é certo né, agora querem ensinar pra mim o que é e não é mel. ” resmungou encarando as três.
Subitamente, pela primeira vez desde que entraram no local, Rafaella abriu a boca.
“ Mãe, nós não fizemos nada, não precisa tratar mal elas. ” falou sem a encarar nos olhos.
“ Agora ela LEMBRA QUE TEM MÃE! ” seu tom subia a cada palavra, fogo no olhar.
“ POR QUE É TÃO DIFÍCIL ENTENDER QUE EU NÃO QUERER ASSUMIR A DROGA DESSA LOJA NÃO SIGNIFICA QUE EU QUERO CORTAR RELAÇÕES COM VOCÊS?! ” a filha agora também gritava.
Kai e Ayla não sabiam o que fazer com a discussão que iniciara. Deveriam levar a amiga dali? Se intrometer talvez atrapalharia ainda mais o que já estava ruim.
“ Que confusão é essa na hora do meu cházinho? ” outra pessoa surgira da área dos funcionários, desta vez um homem.
Baixinho e meio barrigudo, usava uma camisa social simples com suspensórios por cima. Em seu rosto o bigode bem cuidado já dava sinais da idade com alguns bons fios brancos. Na cabeça uma boina preta era vista escondendo os sinais da calvície.
Ele olhou para a esposa e para as visitas inesperadas, rapidamente abrindo um largo sorriso ao ver quem estava entre os visitantes. Sua filha estava de volta ao lar.
...
Oliver e Francesca caminhavam há algum tempo. Haviam se separado do grupo e seguido pela costa da ilha, circulando próximo ao mar. No ombro do garoto Axew tentava fazer contato com o Natu no ombro da companheira, porém sem nenhum sucesso. O rapaz estava meio incomodado com a presença indesejada, já ela não parecia perceber, ou caso percebesse apenas não se importava, e seguia tagalerando sem parar pelo caminho sobre informações aleatórias da ilha ou de sua vida pessoal.
“... E ali foi onde eu cai de uma árvore e quebrei o braço... Eu brincava aqui perto com...”
Ele não entendia muito bem o motivo de tudo aquilo. Como as pessoas conseguiam simplesmente encontrar desconhecidos e sair abertamente falando de sua vida sem mais nem menos?
“ Ei... Você não acha que seguir pessoas desconhecidas pro meio do mato pode ser meio perigoso? Sabe como é, você me conheceu não faz nem meia hora. ” ele disse, quebrando seu ritmo de acenos de cabeça e ocasionais "Aham".
Ela, que andava um pouco mais a frente, virou, meio confusa.
“ Eu confio nas decisões da Rafinha. Se você é amigo dela deve ser uma boa pessoa. Além disso eu tenho bons palpites sobre as pessoas.” disse sorrindo enquanto se virava. “ E você também é meio bonitinho, que culpa tenho? ”
Se ela tivesse mantido seus olhos nele poderia visto o rapaz corando levemente, desviando o rosto para o chão. O que ela também não viu foi o momento em que o Xatu em seu ombro girou cento e oitenta graus e encarou o moreno com aqueles grandes olhos, emitindo uma luz vermelha em uma ameaça silenciosa.
“ Assustador. ” murmurou Oliver, tremendo por um instante.
Os dois seguiram seu rumo por mais alguns minutos. A brisa leve do mar era agradável e a conversa agora era menos unilateral, ainda que ele seguisse monossilábico.
Quando se deram conta haviam alcançado um ponto peculiar; uma pequena porção mais baixa do que aquela da qual vieram, onde não havia mais casas e que possuía areia. A parte que chamava atenção no entanto era a névoa que ele seguira até ali, pois ela parava abruptamente, como se por vontade própria ela tivesse se originado no quarto dele e viajado até aquele ponto.
Francesca avançou primeiro. Pisando na areia, chutou um pouco pro alto e olhou em volta. Haviam marcas ali.
“ Isso aqui é estranho. ” comentou Fran enquanto olhava para o formato do que fora marcado. Era grande, o que quer que fosse saiu do mar e se arrastou por ali, até que subitamente desapareceu sem deixar rastros, e então uma nova dupla de marcações surgiam mais a frente, algo que indicava um par de botas junto de quatro grandes pegadas animalescas, parecendo seguir floresta a dentro, enquanto começavam a desaparecer devido a ação do vesto sobre a areia.
Oliver, que estava mais atento ao nevoeiro do que aos pequeninos grãos arenosos, olhou para onde ela falava percebendo duas coisas. A primeira era que ela andava descalça e como não havia chinelo por perto ele assumiu que estivera assim desde que se encontraram. Já a segunda foram as marcas. As tateou no chão como um dia vira em um filme de detetive, não que realmente conseguisse tirar alguma informação além do óbvio ali, e não que isso fosse eficiente numa praia de areia, mas ele não tinha como saber disso.
“ Como pensei, com certeza é ela. ” Oliver comentou, com uma certeza absurda e infundada, tendo como base talvez apenas seus instintos.
“ Ela...quem? ” a outra questionou.
Logo se lembrou que não contara a ela o motivo de estar ali, rapidamente tentando explicar da maneira mais reduzida que podia.
“ Eu tô seguindo essa garota e...”
“ Pera aí, seguindo? VOCÉ É UM DAQUELES STALKERS!? ” perguntou se distanciando. “ Stalker! Nojento! Inimigo das mulheres! ” disparou.
“ Ei, calma aí, não é assim também! Eu só não pensei muito antes de falar! ” o jovem logo tratou de explicar a história direito para a outra, esta ainda meio desconfiada, apenas omitindo um ou outro ponto dos quais ele se envergonhava de lembrar.
Ela analisou a história, parecendo se convencer.
“ Deixa eu ver se entendi... Tu ajudou uma mina estranha a embarcar em um navio de luxo e agora ela sumiu e você acha que pode ter roubado algo? E você ainda quer dar uma de sábio me dizer que eu confio fácil pessoas! ” disse sem conseguir conter uma risadinha.
“ Falando assim em voz alta você me faz parecer um idiota... ” balbuciou concordando com um aceno de cabeça contrariado.
“ Não disse isso, mas você também não é muito esperto. ” ela retrucou ainda sorrindo.
“ Ei, não precisa zombar! Na real eu nem pedi pra você me acompanhar! Você pode sair daqui quando quiser. ” estava começando a se irritar, mesmo que soubesse que não havia causa pra tal.
“ Não tô reclamando. Você é engraçado, e eu não tenho nada melhor pra fazer. Conhecendo mamãe a essa hora ela deve estar brigando com a Rafinha, sabe? Ver isso seria um saco. ” respondeu com calma. “ Falando sério agora, por que você não falou com alguém? Cê nem precisava fazer isso, quem dirá sozinho. Talvez ela só tenha os motivos dela pra ir embora, nada demais. ”
O que ela falava fazia sentido, por que ele não pediu ajuda pra alguém? Kai? John? Talvez até mesmo Ayla e Rafaella. Todos poderiam ter ajudado. Ainda assim, ele continuava tentando fazer tudo sozinho. Parecia estar tentando provar que poderia ser forte, e que se seguisse Haru para sabe-se lá onde e descobrisse que na verdade ela não era quem pensavam ser que ele poderia se orgulhar de estar certo sobre algo uma vez em sua vida.
“ Acho que você tem razão, a gente devia... ” começou, mas logo sua voz fora suprimida por um som muito mais alto.
“ KIARA, EU JÁ FALEI QUE VOCÊ NÃO PODE CONTINUAR ARRANJANDO BRIGA COM ESSES MEOWTH! SE VOCÊ MORDER O PESCOÇO DELES ELES MORREM! ” uma voz conhecida por ele foi ouvida gritando mais ao longe, mas ainda era mais baixa do que uns grunhidos tristes que puderam ser ouvidos em sequência. “ E NÃO ADIANTA FAZER ESSA CARA DE ARCANINE QUE PERDEU O OSSO PRA CIMA DE MIM NÃO! ”
Fran olhou para o garoto, como se perguntasse se aquela voz pertencia a pessoa que seguiam.
“ É ela! Vem comigo. ” e correu na direção do som.
...
O barulho da água preenchendo as xícaras era um breve acalento após a confusão que ocorrera minutos atrás. Na verdade, o clima ainda estava meio estranho. O trio estava sentado na sala de estar da casa de Rafaella. Ayla e Kai dividiam um sofá pequeno de cor bege, estando sentadas lado a lado e de frente à televisão. Rafaella estava em uma poltrona cinza, sozinha, rumo a uma cadeira de balanço vazia. No centro da sala havia uma mesinha de vidro baixa com um daqueles panos feitos de crochê, e sobre ela um jogo de xícaras branco com detalhes pintados a mão estava disposto. Próximo a ele um jornal da “Folha do Arquipélago” era visível, com as manchetes disputando a atenção de quem as visse com letras garrafais.
' ASSALTO AO MUSEU DE CAVE... OS PERIGOS DA CARNE DE MAGIKARP PARA A PELE...CRESCENTE NÚMERO DE SAQUES EM NAVIOS... INAUGURAÇÃO DA PRIMEIRA SAFARI ZONE EM DECOLORE... COMO APARAR O SEU BONSLY...', nada que atraísse interesse suficiente de uma das presentes para ler as matérias.
No chão, Tomy, o Rotom, junto do Shinx de Rafaella, brincavam com um grande Luxray que parecia confuso com a presença do fantasma.
“ Um cházinho sempre ajuda a acalmar depois de um dia difícil. ” disse o velho de Rafa saindo da cozinha e servindo a filha e as convidadas com um pouco da substância.
“ Pai ainda não passou do meia dia. ”
“ Oh! É verdade. ” disse enquanto se sentava na cadeira de balanço, soltando um longo suspiro. “Considerem isso meu pedido de desculpas pela minha esposa. As vezes ela se altera um pouco, mas é uma mulher adorável! ”
Das muitas palavras que Kai poderia descrever a mulher que mal conhecera, "adorável" não seria uma das primeiras escolhas, mas dizer tais palavras sobre a mãe de uma amiga não parecia ser a melhor das idéias, então se contentou em agradecer.
“ Tá tudo bem, senhor? ” perguntou, no lugar de seus questionamentos internos.
“ Fiore. ” respondeu ele, enquanto tomava um gole de seu chá. “ Mas então, o que motiva a visita de minha filha em fuga? ” tentava fazer uma voz mais séria, embora não conseguisse disfarçar uma risada de canto.
Kai olhou para o senhor, em seguida olhou para Rafaella, repetindo o processo mais uma vez até virar para Ayla, que não parecia surpresa.
“ VOCÊ FUGIU DE CASA?! ” enfim explodiu, na direção da filha dos donos.
” SHHHH, fala baixo! " deu um esbravejo sussurrado. " Já foi um milagre o papai ter conseguido acalmar ela e deixar a gente passar a noite aqui! Vai que ela escuta!” a preocupação de Rafaella era bem justificada, afinal, a casa de sua família ficava de frente a loja. “ E eu não fugi de casa, eu só sai sem avisar. ” desviando o olhar.
Kai estava surpresa. Esperaria algo assim de Oliver ou Ayla, não dela. Estava ainda mais chocada com a tranquilidade que o Sr. Fiore lidava com o assunto.
Ele, percebendo a confusão, olhou para os lados e para a janela de vidro em direção a loja do outro lado da rua. Após confirmar algo, apoiou o corpo em algo e o esticou para a frente, colocando a mão livre na lateral da boca como uma criança que está prestes a contar um segredo.
“ Eu ajudei ela a sair. Mas não contem pra minha Sandrinha, ela me mata se souber! ” se ajeitou na cadeira, retomando a xícara e a levando a altura do rosto enquanto soprava, agora aparentando mais seriedade. “ Eu acredito que os jovens precisam ser livres para correrem atrás de seus sonhos. Que tipo de pai eu seria ao ver minha filha infeliz por meu egoísmo? ” com um suspiro.
Rafaella sorriu meio encabulada enquanto Kai o observava curiosa. Nunca conhecera seu pai. Neste momento se perguntou como sua vida teria sido se estivesse presente. Será que ele acreditaria nela como aquele homem acreditava na filha? Perguntas como essa eram algumas das quais ela nunca teria resposta.
Alguns bons minutos se seguiram ali enquanto conversavam. Pai e filha colocavam o assunto em dia, principalmente sobre as coisas que ela vira junto com Ayla, até que em algum momento o assunto chegou em como conheceram Kai, o que inevitavelmente levou ao motivo de estarem ali.
" Compreendo... Eu gostaria de poder ajudar, mas veja bem, nós separamos aqui nossos mels em duas categorias, sendo elas os mels de consumo e os mels ferômonizados. O segundo é o que mais vendemos, por ser mais procurado e não ser um mel puro. Basicamente é um mel no qual se mistura própolis, alcool e alguns feromônios para gerar um olor atrativo para pokémons, e isso gera uma procura incrível entre treinadores, além de ser barato de produzir e exigir menores quantidades de mel puro. O mel de consumo, no entanto, já é o mel puro, que varia em umidade, sabor e textura acordo à espécie produtora e a florada da época, então precisa da quantidade integral do mel para poder ser vendido assim, o que para nós não está sendo interessante visto alguns problemas no período produtivo recente. Por causa disso, não temos estoque dele. " fez a longa explicação, enquanto tomava gole a gole o seu chá até este acabar.
A decepção no rosto de Kai era nítida.
“ E quanto tempo vai demorar pra ter no estoque? ”
O homem balança a cabeça, como em negação.
" Nós não temos previsão, Estamos abastecidos com a produção de Beedrills e Ribombees, mas elas não produzem grandes quantidades de mel. As Combees, que produzem a maior parte do mel que sai daqui, estão muito ariscas, e não permitem aproximação nem à matriz nem as colônias, que ficam na Grande Árvore Antiga e nos seus arredores. Cá entre nós, tudo indica o nascimento de uma nova Vespiqueen, e isso deve estar causando conflito entre as Vespiqueens de ambas matriz e colônias. Se aproximar numa situação dessas é muito perigoso, e alguém da minha idade não aguenta mais essas aventuras, então só podemos esperar que tudo se resolva. " então se levanta e leva as xícaras para a cozinha.
“ É uma pena, mas quem sabe se a gente esperar até o navio partir elas já pararam o conflito? Talvez assim ainda dê pra conseguirmos algum mel delas. ” Ayla tentou a consolar. “ E no mais, qualquer coisa você pode tentar convencer eles a te venderem e levar mel das Ribombees e Beedrills, são muito bons também. ” Rafa completou.
Alguns segundos passaram com a garota em silêncio, se esforçando para desviar da conclusão que lhe parecia óbvia. Levantou do sofá cheia de determinação.
“ Eu só preciso ir nessa árvore sei lá o quê e trazer uma das Vespiqueen, né? ” perguntou decidida.
“ Qual parte de ser perigoso você não ouviu? ” Ayla questionou. “ E de ser só um palpite? ”
“ Eu sei me virar, e além do mais, eu tenho isso comigo. ” a tranquilizou enquanto puxava o celular do bolso, o levantando com um braço. Imediatamente o Rotom flutuou ao seu encontro, possuindo o aparelho e então pairando entre elas.
“ Vamos Tomy, hoje
a gente vai pegar uma rainha! ”
AdA #03 Carol (Autora de NPH)
Um Ano de NPD
AdA #02 — Carol (Autora de NPH)
Capítulo 8
O calmo estabelecimento localizado em uma das ruas de Torom não tinha tanto movimento. Pagava as contas, mas não podiam esbanjar dinheiro pela ilha, a sorte porém era ser um dos poucos do local então concorrentes eram raros em um lugar onde todos se conhecem.
Dentro do local, uma confeitaria, Liz terminava de colocar um delicioso bolo de chocolate para exposição, suas mãos equilibravam com cuidado a bandeja para não derramar a calda que escorria lentamente enquanto resfriava. Ao seu lado, Slurpuff a acompanhava de perto, seu faro apurado era um grande aliado para ela na cozinha, mas além disso era um ótima companhia nos dias que não tinham tanto movimento.
“Ei Puffy, sabe quem gostaria desse bolo?” perguntou enquanto fechava o expositor. “A Kai.”
Sua sobrinha havia partido da ilha fazia apenas alguns dias mas Liz já sentia saudades, aquele lugar ficava bem mais calmo sem ela gritando e correndo por aí, mas menos divertido nas mesmas proporções.
“Me pergunto onde ela está agora... Do jeito que ela é me preocupo que perca o navio em algum parada, ou esqueça suas coisas por aí" suspirou. O Slurpuff que prestava atenção nas palavras dela, vez ou outra acenando com a cabeça em sinal de entendimento, se aproximou de Liz entregando seu celular em suas mãos.
“Mas o quê...” na tela do objeto uma notificação indicava que uma mensagem fora recebida.
“Oi tia Liz, como ‘cê’ tá? ‘Tô’ com saudades. Não consegui mandar tantas mensagens, as coisas estão meio corridas, mas estou aproveitando bastante esse tempo! Eu FIZ AMIGAS! Elas são engraçadas, qualquer dia eu faço uma ligação pra você e chamo elas. Aconteceu tanta coisa que é difícil contar, mas nós saímos de Cave e estamos indo para Honey, acho que chego lá amanhã. O navio saiu cedinho, só é estranho que uma das minhas amigas não apareceu, ela disse que vinha com a gente e sumiu, espero que esteja bem. Eu preciso ir, fica bem, te amo. S2”
As mensagens dela acabaram e foram seguidas por uma foto: uma selfie da garota junto com o grupo que ela mencionara anteriormente. Haru segurava o celular com um sorriso, um pouco mais atrás Kai se encontrava entre Oliver e Ayla com os braços por cima dos ombros dos dois os puxando para perto de si e sorrindo alegremente. Já Rafaella estava ao lado de Ayla e fazia um "V" com a mão.
Liz sorriu. Sua sobrinha parecia tão alegre naquela foto, e sua preocupação logo foi substituída por uma sensação de que a garota estaria bem por si mesma. A mulher se sentiu feliz.
Encarou um pequeno porta-retratos antigo apoiado em cima da mesa. Era vermelho e possuía uma pequena rachadura em uma das laterais, fruto de alguma queda no passado. A foto que o objeto exibia fora tirada na frente da confeitaria, sua inauguração muitos anos atrás. Que saudades daquele tempo, mesmo que sua decoração fosse bem mais simples na época.
Em frente ao local haviam duas mulheres, eram bem parecidas tanto nos traços de seus rostos como na coloração cinzenta de seus cabelos. Se podiam se diferenciar era principalmente graças a uma delas ter o cabelo mais curto e ser um pouco mais alta, mas com a semelhança mui vísivel não havia como negar que eram irmãs. Nos braços da moça de cabelos curtos um bebê sorridente esticava sua mãozinha tentando alcançar sua face. Memórias de bons tempos que infelizmente não poderiam voltar.
“Parece que nossa garotinha está crescendo, maninha.”
....
Sobre as águas calmas de uma das piscinas do navio a garota boiava despretensiosamente. Se refrescava do sol quente de meio dia enquanto aproveitava para brincar com sua desajeitada Spheal que não conseguia nadar.
“Ei, Ollie, vem pra água, aqui tá quentinho.” disse olhando para um garoto sentado próximo a borda.
Em uma luxuosa cadeira de praia branca estava Oliver, que observava com calma as pessoas que passavam por ali enquanto seu Axew repousava em seus braços. Já passara da hora do almoço então o movimento começara a se agitar, pessoas iam e viam saindo das piscinas junto com seus pokémon aquáticos. Algumas estavam em pé paradas fazendo sabe se lá o que, alguns treinadores batalhavam em uma área mais afastada e um garotinho brincava com um Pikachu gordo.
“ Tô bem aqui estando seco.” respondeu seguido de uma risada.
“Sem graça.” ela segurou o Spheal em seus braços apontando em direção a ele enquanto ordenava. “Water Gun.” Um jato de água foi liberado da boca da criatura acertando o pobre garoto no rosto encharcando seu cabelo e acordando o assustado Axew.
“ISSO NÃO FOI NADA LEGAL!” exclamou com o susto enquanto tentava se secar ouvindo as risadas da garota após sua travessura.
“ Vocês são duas crianças por acaso?” Uma terceira voz se aproximava por trás do jovem, a frase era de repreensão mas tinha um tom descontraído, com um sorriso de canto.
“Haru, eu pensei que você tivesse perdido o navio!” Kai berrou contente ao ver a garota ali com eles. Estava com um visual bem mais descontraído do que o anterior, usava apenas uma calça preta e uma regata branca. Sem aquela mochila e sem sua jaqueta a garota de cabelos cinzentos percebia que o corpo da amiga era surpreendentemente bem mais definido do que imaginava. Em sua mão um drink incolor com o que se assemelhava a fatias de frutas. O rapaz próximo tinha quase certeza de reconhecer como sendo saquê, ou talvez fosse só um suco e ele estivesse delirando.
“ Ah, é você.” Oliver revirou os olhos ao notar ela. “Pensei que tivesse se afogado.”
“Tão engraçadinho... A propósito, eu tomei a liberdade de entrar na sua cabine, sabe como é, você precisa arrumar aquele lugar, tá tudo uma bagunça!” disse ela em reprovação sentando ao lado dele.
Informações demais para ele processar, tinha certeza de não ter visto ela entrando e tudo era mal explicado demais. Como alguém entra em seu quarto sem permissão?!
“Como você entrou aqui pra começo de conversa?” quando o rapaz falou isso Haru o encarou como se fizesse uma pergunta estúpida que estivesse óbvia para todos.
“ Só cobrei um favor, nada demais. Alguém te deve algo e você cobra, é bem simples! Não me olhe como se eu estivesse cometendo um crime.” ela disse enquanto fazia um aceno com a mão para uma das garçonetes do bar que acenou de volta.
“Isso É um crime.” respondeu indignado.
“Só se descobrirem.” rebateu sorrindo.
Kai que estava distraída na piscina enquanto os dois conversavam logo percebeu a falta dos dois.
“Ei, venham pra água antes que eu mesma vá aí e empurre vocês dois!”
Haru se levantou e fez como quem ia pular. Ela encarava a água como se o líquido chamasse mas ela estivesse presa no chão. Recuou enquanto puxava instintivamente as laterais de sua camisa pra baixo com os braços meio nervosa.
“Outro dia quem sabe. ” se sentou na beirada da piscina molhando apenas os pés enquanto os balançava.
Oliver percebendo a hesitação se aproximou sentando ao lado dela.
“ Olha só quem tá com medo da água, Skitty medrosa.” o garoto provocou sorrindo.
Para seu azar o sorriso não durou muito e logo foi substituído por uma expressão de dor e após isso susto percebendo o que acontecera; a mão dela acertou suas costas com um sonoro tapa o empurrando direto para a água e terminando de o encharcar por completo.
A água , diferente do que lhe fora dito, estava gelada e arrepiou seu corpo por inteiro ao tocá-lo. Quando levantou a cabeça pode ver as duas garotas sorrindo.
“Odeio vocês.”
...
Após um certo tempo brincando na piscina os dois saíram e se secaram. Oliver estava menos irritado com tudo e até sorria de vez em quando. Os três almoçaram juntos e conversaram um pouco, e enquanto isso o movimento diminuía e as pessoas achavam outras coisas para se divertir.
“ Esse navio tá levando algum figurão?” Haru perguntou sem olhar diretamente para os dois enquanto eles andavam lado a lado para a área interna.
Kai prontamente respondeu que não fazia a mínima ideia. O outro afirmou haver essa possibilidade, visto ser um navio bem luxuoso, um lugar perfeito para algum ricaço gastar seu dinheiro enquanto vive na sombra e água fresca de um arquipélago paradisíaco.
“ Isso explica muita coisa.” ela balançou com a cabeça como se uma informação se ligasse. “
“O que?” os outros dois perguntaram em uníssono.
“ Disfarcem, ok? Ali, ali, e ali também.” ela balançava com a cabeça em cada "ali" e apontava para direções diferentes de maneira discreta.
Em um canto mais afastado com uma cadeira virada para o mar eles podiam ver um homem de costas para eles, mesmo assim não conseguiam discernir sua aparência . Ao redor dele em pontos dispersos e distantes entre si haviam quatro pessoas, duas mulheres e dois homens, todos com cara de poucos amigos. Usavam roupas normais e esperadas em um local para lazer, mas chamava a atenção estarem parados encarando posições diferentes, cada um deles com um cinto cheio de pokeballs a sua disposição.
“ Seguranças de elite. Treinadores poderosos que viajam por aí e trabalham pra quem paga mais, onde você ver um deles pode ter certeza que tem grana alta envolvida.” Haru cochichou.
Oliver se surpreendera. Não pela existência de treinadores assim, John já mencionara algo sobre isso uma vez, mas por nunca ter reparado neles antes. Apenas conhecia os seguranças tradicionais de terno que ficam parados pelo convés imóveis como um totem e rabugentos como um Granbull velho.
Kai por outro lado nem disfarçava mais como a outra pedira e encarava com uma expressão que dizia “Que daora”. Viver tão distante do resto do mundo criara uma visão meio “fechada” deste, mesmo tendo internet as coisas sempre pareceram distantes, como se para conseguir elas precisaria ter nascido em outro lugar onde tudo fosse mais fácil, onde as oportunidades estivessem ao alcance de sua mão. Ser treinadora era uma dessas coisas. Para ela, e mesmo para muitas outras crianças do lugar, não havia muito sentido em se tornar uma treinadora, afinal de contas Decolore não possui uma liga oficial. Mas aquilo se provava errado. Claro que ser segurança não lhe era muito atrativo, porém existiam possibilidades. Ela não precisava aceitar um destino que não gostaria de ter.
“ Ei, então... treinadores fortes são tão requisitados assim pelo mundo?” perguntou tentando parecer o mais desinteressada possível no assunto.
“Sabe como é, sempre precisam de alguém forte por aí, seja pra lidar com pokémons problemáticos ou pra fazer algum serviço que ‘civis’ não conseguem. Se você for inteligente consegue ir de lugar pra lugar com facilidade.” respondeu Haru dando um sorriso presunçoso como se falasse de si mesma. “ Então sim, no final aqueles que tem poder podem fazer o que bem entendem.” concluiu.
Mesmo que a frase final tivesse sido um pouquinho sombria demais, não era suficiente para abalar Kai, muito pelo contrário, a enchera de determinação. Se ela se tornasse forte poderia fazer o que bem entendesse, poderia deixar Torom de uma vez e ir viajar pelo mundo, para bem longe daquele Arquipélago! Assim como sua mãe um dia o fizera... Como não pensara nisso antes? Era uma solução tão óbvia!
Os outros dois não entenderam ao perceber que a garota ria de lado a lado contente com sus perspicácia, mas ela não se importou, nada poderia tirar seu contentamento naquele momento.
“ VAMOS PARA O SALÃO DE BATALHAS, EU QUERO TREINAR!” Kai exclamou segurando os dois pelo braço e correndo enquanto ignorava os protestos de ambos sem saber o que acontecera.
...
A tarde passou rápido enquanto os três estavam no enorme salão dedicado exclusivamente aos treinadores. Kai estava empolgada, desafiava todo desconhecido que via pela frente sem medo, não era como se tivesse uma reputação a perder. Oliver apenas assitia da arquibancada conversando com Rafaella e Ayla que encontraram ali. Aparentemente campos de treino são bons lugares para ver pokémons e pessoas diferentes. Já Haru se encontrava perdida em anotações em um caderninho surrado de folhas gastas e capa preta, essa que exibia os kanjis Kantonianos de Flor e Fogo em uma tinta que um dia fora branca.
A garota dos cabelos cinzas batalhou muitas vezes, tantas que perdera a conta. Infelizmente contar o número de vitórias era fácil pois ainda não havia nenhuma, em uma tarde inteira conseguira perder todos os duelos, o que era esperado devido a sua inexperiência mas o suficiente para tirar seu contentamento do mesmo jeito. Após outra derrota na qual Tomy fora subjugado por um grande e parrudo Rhydon ela se cansou daquilo e saiu em direção aos amigos na arquibancada.
“ Você ‘tá’ indo melhor do que eu esperava.” ele tentou a animar com seu jeito torto.
Agradeceu balançando a cabeça enquanto virava uma garrafinha de água a bebendo como se ela mesma estivesse nas batalhas e derramando um pouco em Frosta que se refrescava alegremente enquanto batia as barbatanas.
Olhou ao redor caçando por algum alvo, já batalhara com todos que estavam ali, desde os mais calmos até os esquisitões.
“Já foram todos...exceto..você”. parou encarando Oliver nos olhos com um sorriso maroto o fazendo corar um pouco e desviar o rosto.
Kai saltou de onde estava sentada como se sua bateria tivesse acabado de atingir seu ápice e ela estivesse pronta para uma maratona.
“ Eu e você, dois contra dois, agora!” disse apontando para o rosto dele.
...
Oliver e Kailani se encontravam um de frente ao outro, entre eles a arena desmarcada por linhas pintadas em branco os separava por uns vinte metros. Ayla havia se aproximado para assistir enquanto Rafa fora puxada para servir como juíza, Haru desapareceu na multidão enquanto eles não olhavam indo sabe-se lá pra onde as Harus vão quando ninguém está olhando.
Kai arremessou duas esferas para o alto liberando Rotom e Spheal.
“ É HORA DO SHOW!”
E logo o fantasma girava em volta dela liberando pequenas faíscas enquanto a foca olhava para o rapaz como se pudesse atacar ele mesmo em vez de seus pokemons.
Oliver pensou em quais pokémons deveria usar. Daru era certeza, mas Braviary era forçar a barra um pouquinho. Levou a mão ao cordão em seu pescoço tentando ver se ela iria se opor mas não houve uma palavra, ela era mais orgulhosa do que ele imaginava.
“ Então é assim que vai ser.” pensou consigo. Sacou a pokéball de seu Darumaka e fez um comando para o Axew, que prontamente saltou para o meio do campo, animado até demais com sua primeira batalha ao lado de seu treinador.
“ Bom, vocês terão uma batalha de dois contra dois e...acho que é só né?” ela perguntou olhando para os lados até ver Ayla sussurrando o resto da frase.
“ Ah sim, a batalha acaba quando os dois pokémons de um lado não consigam continuar ou um de vocês desistirem.” disse enquanto fazia um gesto com as duas mãos indicando que começara.
“ THUNDERSHOCK! WATER GUN!” ela não perdeu tempo disparando na largada.
Tomy disparou sobre o campo escolhendo como alvo o dragão adversário e descarregando de seu corpo uma carga elétrica vinda de cima. Já Frosta abriu sua boca disparando um jato de água que mais se assemelhava a um tiro rápido contra Darumaka. O garoto foi pego de surpresa.
O normal seria analisar o oponente primeiro e atacar depois, não?
“ Axew desvie! Daru, Incinerate!” Axew tentou saltar para o lado mas se atrapalhou sendo atingido diretamente pelo raio em sua cabeça. Daru tinha reflexos melhores saltando para trás liberando uma rajada de fogo de sua boca ainda maior que o tiro de água o anulando e atingindo a atacante.“ Agora é nossa vez! Rollout na Spheal e Assurance no Rotom! ”
Axew que ainda estava atordoado após o choque balançou a cabeça e segurou o choro virando-se para seu adversário e correndo contra ele no que parecia uma tentativa de dar uma cabeçada. Darumaka saltou para frente começando a girar muito rápido enquanto se aproximava de Frosta.
“ Ele não pode te acertar Tomy, E ESSE JOGO JOGAM DOIS, ROLLOUT TAMBÉM!”
Tomy esperou pelo momento em que o dragão passaria direto pelo seu corpo e ele poderia atacar diretamente. Mas esse momento não veio, muito pelo contrário, quando o pequeno estava próximo o suficiente um brilho roxo bem fraco envolveu a parte pontuda de sua cabeça acertando o desprevenido Rotom e o mandando direto pro chão.
“ Mas... O quê?” Kai estava confiante em sua estratégia e aquilo era uma surpresa.
“ Você sabe que Assurance é um movimento de tipo Dark, né?” em uma batalha séria entregar suas estratégias seria pura burrice, mas em duelo amigável aprendizado era mais importante do que apenas vencer no final.
“ Tendi.” ela assentiu com a cabeça claramente sem entender.
Enquanto isso ambos Darumaka e Spheal usavam Rollout um contra o outro enquanto se batiam de frente numa disputa de forças. Era como assistir um carrinho de bate-bate em miniatura, mas no lugar dos carrinhos eram esferas furiosas tentando passar uma por cima da outra.
“ Astonish!” Kai não se abalou pelo golpe inesperado e já estava voltando com tudo. Rotom desapareceu em um instante aparecendo novamente na frente de Axew. Seus olhos brilhando em um carmesim intenso assustando até a alma do pobre dragão que nem chorar conseguia, pois estava paralisado completamente pelo medo, ficando parado assim um pouco atrás de onde a outra dupla pelejava entre si.
O rapazote tentou chamar seu pokémon mas não obteve nenhuma resposta.
“Daru, Incinerate enquanto continua girando!”
Novamente chamas foram liberadas da boca do macaquinho, elas o envolviam no sentido em que ele girava, transformando-lhe numa grande bola flamejante, que disputava forças contra a Spheal que começava a ser forçada para trás conforme as queimaduras iam aparecendo.
“ Deixa ele passar!” a garota de cabelos cinzas ordenou quando uma ideia surgiu em sua mente. “ Tomy, prepara aquilo!” o espectro ao ouvir aquelas palavras começou a produzir eletricidade por todo o seu corpo e parecia concentrá-la em um ponto específico.
Até o momento os dois pokémons em giro estavam competindo de frente em um duelo de resistência, mas aquele comando mudou o jogo. Frosta não precisava mais impedir o movimento dele. Com um simples desvio para o lado o pokémon de fogo acelerou direto para o próprio companheiro o atingindo em cheio e o acordando de seu transe.
“ AGORA, ELECTRO BALL! ” toda a energia que havia sido concentrada pelo fantasma se reunia em sua frente na forma de uma grande esfera de energia amarelada que pulsava e soltava faíscas.
“ DESVIEM!” o garoto tentou mas já era tarde demais e não havia como escapar.
A grande esfera foi disparada rápido, mais rápido do que se esperaria de algo daquele tamanho. O golpe atingiu seu alvo perfeitamente, assim como o pequeno Axew que acabara de se tocar no que estava rolando, os engolindo por completo em pura energia e explodindo em seguida criando uma nuvem de poeira no lugar.
Quando a poeira baixou os dois estavam no chão nocauteados enquanto Tomy e Frosta mostravam-se cansados, e meio chamuscados, porém de pé.
“ A vencedora é Kai!” Rafaella disse alto levantando um braço para o lado em que a ela estava.
“EU VENCI!” a menina dos cabelos cinzentos deu um pulinho enquanto corria para abraçar seus pokémon.
“BOA, GAROTA! ” Ayla gritou da arquibancada.
“ Foi uma boa batalha.” Oliver aproximava para um aperto de mão que logo foi ignorado por ela e trocado por um abraço, o deixando sem jeito, nunca fora uma pessoa de abraços mas ela estava tão contente que ele não se incomodou em reclamar.
...
Sob a escuridão da noite as luzes do navio eram um clarão sobre o mar. O barulho da música alta podia ser ouvido de longe enquanto as pessoas bebiam e dançavam no deck superior.
Kailani e Oliver estavam um pouco mais afastados do centro onde a verdadeira festa acontecia, encostados nas laterais do navio. Kai vez ou outra apontava para o céu e dizia coisas sobre as estrelas “...e aquela ali é a Ursaring Maior...”. Ela conhecia bastante coisa sobre estrelas, sempre fora fascinada pelo céu. Falava empolgada sobre como reconhecer uma ou outra constelação, ou os significados de cada nome. Ele por sua vez apenas ouvia impressionado concordando com ela.
“ Ei, pode ouvir algo?” o rapaz perguntou interrompendo o silêncio que os dois estavam após sus conversa.
Ela respondeu que sim.
“Então, eu queria te agradecer por ter me ajudado a encontrar meu Braviary. Eu sei que não agi muito bem naquele dia, estava um pouco irritado por algumas coisas e...” se perdeu em suas palavras mas logo retomou o fio “...por isso eu queria te agradecer, mas não é como se eu me importasse tanto assim...eu só..ah, quer saber? Toma.” tirou de um bolso uma agenda eletrônica vermelha a entregando na mão da garota.
“ Você sabe que não precisa faz...ISSO É UMA POKÉDEX?” os olhos dela brilhavam enquanto segurava o objeto com a maior delicadeza que conseguia com medo de quebrar.
“ Onde você conseguiu?” Ela perguntou.
“ É uma história meio longa...” disse coçando a cabeça enquanto se perguntava onde estava a penetra que ele ajudou, penetra essa que havia sumido de vista há algumas horas. “ Relaxa, eu não daria muito uso pra isso mesmo. É mais útil pra você.”
“PODE TER CERTEZA QUE EU VOU USAR!” disse agradecendo enquanto tateava o objeto com cuidado. As teclas eram macias e o objeto bem construído. Em baixo relevo, escrito em letras minúsculas na parte detrás, a garota leu “Made in Kanto”. Mais curioso porém era que em uma das laterais havia uma parte que parecia ter sido encaixada as pressas, como se alguém tivesse aberto o aparelho e na hora de fechar algo tivesse saído errado. Mas não parecia afetar seu funcionamento.
Apontou o objeto para várias direções analisando o que estivesse pela frente. Kai estava contente, era um presente útil. MUITO útil.
Para ela era quase um sinal dos céus, um pequeno presente de boa sorte do universo lhe dizendo para seguir adiante com seu desejo. Coisas assim não podiam ser coincidência, e mesmo se fossem apenas uma peça sem sentido pregada pela vida ela mesma escolheria o sentido que quisesse e o faria verdadeiro.