Um Ano de NPD
AdA #02 — Carol (Autora de NPH)
Capítulo 8
O calmo estabelecimento localizado em uma das ruas de Torom não tinha tanto movimento. Pagava as contas, mas não podiam esbanjar dinheiro pela ilha, a sorte porém era ser um dos poucos do local então concorrentes eram raros em um lugar onde todos se conhecem.
Dentro do local, uma confeitaria, Liz terminava de colocar um delicioso bolo de chocolate para exposição, suas mãos equilibravam com cuidado a bandeja para não derramar a calda que escorria lentamente enquanto resfriava. Ao seu lado, Slurpuff a acompanhava de perto, seu faro apurado era um grande aliado para ela na cozinha, mas além disso era um ótima companhia nos dias que não tinham tanto movimento.
“Ei Puffy, sabe quem gostaria desse bolo?” perguntou enquanto fechava o expositor. “A Kai.”
Sua sobrinha havia partido da ilha fazia apenas alguns dias mas Liz já sentia saudades, aquele lugar ficava bem mais calmo sem ela gritando e correndo por aí, mas menos divertido nas mesmas proporções.
“Me pergunto onde ela está agora... Do jeito que ela é me preocupo que perca o navio em algum parada, ou esqueça suas coisas por aí" suspirou. O Slurpuff que prestava atenção nas palavras dela, vez ou outra acenando com a cabeça em sinal de entendimento, se aproximou de Liz entregando seu celular em suas mãos.
“Mas o quê...” na tela do objeto uma notificação indicava que uma mensagem fora recebida.
“Oi tia Liz, como ‘cê’ tá? ‘Tô’ com saudades. Não consegui mandar tantas mensagens, as coisas estão meio corridas, mas estou aproveitando bastante esse tempo! Eu FIZ AMIGAS! Elas são engraçadas, qualquer dia eu faço uma ligação pra você e chamo elas. Aconteceu tanta coisa que é difícil contar, mas nós saímos de Cave e estamos indo para Honey, acho que chego lá amanhã. O navio saiu cedinho, só é estranho que uma das minhas amigas não apareceu, ela disse que vinha com a gente e sumiu, espero que esteja bem. Eu preciso ir, fica bem, te amo. S2”
As mensagens dela acabaram e foram seguidas por uma foto: uma selfie da garota junto com o grupo que ela mencionara anteriormente. Haru segurava o celular com um sorriso, um pouco mais atrás Kai se encontrava entre Oliver e Ayla com os braços por cima dos ombros dos dois os puxando para perto de si e sorrindo alegremente. Já Rafaella estava ao lado de Ayla e fazia um "V" com a mão.
Liz sorriu. Sua sobrinha parecia tão alegre naquela foto, e sua preocupação logo foi substituída por uma sensação de que a garota estaria bem por si mesma. A mulher se sentiu feliz.
Encarou um pequeno porta-retratos antigo apoiado em cima da mesa. Era vermelho e possuía uma pequena rachadura em uma das laterais, fruto de alguma queda no passado. A foto que o objeto exibia fora tirada na frente da confeitaria, sua inauguração muitos anos atrás. Que saudades daquele tempo, mesmo que sua decoração fosse bem mais simples na época.
Em frente ao local haviam duas mulheres, eram bem parecidas tanto nos traços de seus rostos como na coloração cinzenta de seus cabelos. Se podiam se diferenciar era principalmente graças a uma delas ter o cabelo mais curto e ser um pouco mais alta, mas com a semelhança mui vísivel não havia como negar que eram irmãs. Nos braços da moça de cabelos curtos um bebê sorridente esticava sua mãozinha tentando alcançar sua face. Memórias de bons tempos que infelizmente não poderiam voltar.
“Parece que nossa garotinha está crescendo, maninha.”
....
Sobre as águas calmas de uma das piscinas do navio a garota boiava despretensiosamente. Se refrescava do sol quente de meio dia enquanto aproveitava para brincar com sua desajeitada Spheal que não conseguia nadar.
“Ei, Ollie, vem pra água, aqui tá quentinho.” disse olhando para um garoto sentado próximo a borda.
Em uma luxuosa cadeira de praia branca estava Oliver, que observava com calma as pessoas que passavam por ali enquanto seu Axew repousava em seus braços. Já passara da hora do almoço então o movimento começara a se agitar, pessoas iam e viam saindo das piscinas junto com seus pokémon aquáticos. Algumas estavam em pé paradas fazendo sabe se lá o que, alguns treinadores batalhavam em uma área mais afastada e um garotinho brincava com um Pikachu gordo.
“ Tô bem aqui estando seco.” respondeu seguido de uma risada.
“Sem graça.” ela segurou o Spheal em seus braços apontando em direção a ele enquanto ordenava. “Water Gun.” Um jato de água foi liberado da boca da criatura acertando o pobre garoto no rosto encharcando seu cabelo e acordando o assustado Axew.
“ISSO NÃO FOI NADA LEGAL!” exclamou com o susto enquanto tentava se secar ouvindo as risadas da garota após sua travessura.
“ Vocês são duas crianças por acaso?” Uma terceira voz se aproximava por trás do jovem, a frase era de repreensão mas tinha um tom descontraído, com um sorriso de canto.
“Haru, eu pensei que você tivesse perdido o navio!” Kai berrou contente ao ver a garota ali com eles. Estava com um visual bem mais descontraído do que o anterior, usava apenas uma calça preta e uma regata branca. Sem aquela mochila e sem sua jaqueta a garota de cabelos cinzentos percebia que o corpo da amiga era surpreendentemente bem mais definido do que imaginava. Em sua mão um drink incolor com o que se assemelhava a fatias de frutas. O rapaz próximo tinha quase certeza de reconhecer como sendo saquê, ou talvez fosse só um suco e ele estivesse delirando.
“ Ah, é você.” Oliver revirou os olhos ao notar ela. “Pensei que tivesse se afogado.” “Tão engraçadinho... A propósito, eu tomei a liberdade de entrar na sua cabine, sabe como é, você precisa arrumar aquele lugar, tá tudo uma bagunça!” disse ela em reprovação sentando ao lado dele.
Informações demais para ele processar, tinha certeza de não ter visto ela entrando e tudo era mal explicado demais. Como alguém entra em seu quarto sem permissão?!
“Como você entrou aqui pra começo de conversa?” quando o rapaz falou isso Haru o encarou como se fizesse uma pergunta estúpida que estivesse óbvia para todos.
“ Só cobrei um favor, nada demais. Alguém te deve algo e você cobra, é bem simples! Não me olhe como se eu estivesse cometendo um crime.” ela disse enquanto fazia um aceno com a mão para uma das garçonetes do bar que acenou de volta.
“Isso É um crime.” respondeu indignado.
“Só se descobrirem.” rebateu sorrindo.
Kai que estava distraída na piscina enquanto os dois conversavam logo percebeu a falta dos dois.
“Ei, venham pra água antes que eu mesma vá aí e empurre vocês dois!”
Haru se levantou e fez como quem ia pular. Ela encarava a água como se o líquido chamasse mas ela estivesse presa no chão. Recuou enquanto puxava instintivamente as laterais de sua camisa pra baixo com os braços meio nervosa.
“Outro dia quem sabe. ” se sentou na beirada da piscina molhando apenas os pés enquanto os balançava.
Oliver percebendo a hesitação se aproximou sentando ao lado dela.
“ Olha só quem tá com medo da água, Skitty medrosa.” o garoto provocou sorrindo.
Para seu azar o sorriso não durou muito e logo foi substituído por uma expressão de dor e após isso susto percebendo o que acontecera; a mão dela acertou suas costas com um sonoro tapa o empurrando direto para a água e terminando de o encharcar por completo.
A água , diferente do que lhe fora dito, estava gelada e arrepiou seu corpo por inteiro ao tocá-lo. Quando levantou a cabeça pode ver as duas garotas sorrindo.
“Odeio vocês.”
...
Após um certo tempo brincando na piscina os dois saíram e se secaram. Oliver estava menos irritado com tudo e até sorria de vez em quando. Os três almoçaram juntos e conversaram um pouco, e enquanto isso o movimento diminuía e as pessoas achavam outras coisas para se divertir.
“ Esse navio tá levando algum figurão?” Haru perguntou sem olhar diretamente para os dois enquanto eles andavam lado a lado para a área interna.
Kai prontamente respondeu que não fazia a mínima ideia. O outro afirmou haver essa possibilidade, visto ser um navio bem luxuoso, um lugar perfeito para algum ricaço gastar seu dinheiro enquanto vive na sombra e água fresca de um arquipélago paradisíaco.
“ Isso explica muita coisa.” ela balançou com a cabeça como se uma informação se ligasse. “
“O que?” os outros dois perguntaram em uníssono.
“ Disfarcem, ok? Ali, ali, e ali também.” ela balançava com a cabeça em cada "ali" e apontava para direções diferentes de maneira discreta.
Em um canto mais afastado com uma cadeira virada para o mar eles podiam ver um homem de costas para eles, mesmo assim não conseguiam discernir sua aparência . Ao redor dele em pontos dispersos e distantes entre si haviam quatro pessoas, duas mulheres e dois homens, todos com cara de poucos amigos. Usavam roupas normais e esperadas em um local para lazer, mas chamava a atenção estarem parados encarando posições diferentes, cada um deles com um cinto cheio de pokeballs a sua disposição.
“ Seguranças de elite. Treinadores poderosos que viajam por aí e trabalham pra quem paga mais, onde você ver um deles pode ter certeza que tem grana alta envolvida.” Haru cochichou.
Oliver se surpreendera. Não pela existência de treinadores assim, John já mencionara algo sobre isso uma vez, mas por nunca ter reparado neles antes. Apenas conhecia os seguranças tradicionais de terno que ficam parados pelo convés imóveis como um totem e rabugentos como um Granbull velho.
Kai por outro lado nem disfarçava mais como a outra pedira e encarava com uma expressão que dizia “Que daora”. Viver tão distante do resto do mundo criara uma visão meio “fechada” deste, mesmo tendo internet as coisas sempre pareceram distantes, como se para conseguir elas precisaria ter nascido em outro lugar onde tudo fosse mais fácil, onde as oportunidades estivessem ao alcance de sua mão. Ser treinadora era uma dessas coisas. Para ela, e mesmo para muitas outras crianças do lugar, não havia muito sentido em se tornar uma treinadora, afinal de contas Decolore não possui uma liga oficial. Mas aquilo se provava errado. Claro que ser segurança não lhe era muito atrativo, porém existiam possibilidades. Ela não precisava aceitar um destino que não gostaria de ter.
“ Ei, então... treinadores fortes são tão requisitados assim pelo mundo?” perguntou tentando parecer o mais desinteressada possível no assunto.
“Sabe como é, sempre precisam de alguém forte por aí, seja pra lidar com pokémons problemáticos ou pra fazer algum serviço que ‘civis’ não conseguem. Se você for inteligente consegue ir de lugar pra lugar com facilidade.” respondeu Haru dando um sorriso presunçoso como se falasse de si mesma. “ Então sim, no final aqueles que tem poder podem fazer o que bem entendem.” concluiu.
Mesmo que a frase final tivesse sido um pouquinho sombria demais, não era suficiente para abalar Kai, muito pelo contrário, a enchera de determinação. Se ela se tornasse forte poderia fazer o que bem entendesse, poderia deixar Torom de uma vez e ir viajar pelo mundo, para bem longe daquele Arquipélago! Assim como sua mãe um dia o fizera... Como não pensara nisso antes? Era uma solução tão óbvia!
Os outros dois não entenderam ao perceber que a garota ria de lado a lado contente com sus perspicácia, mas ela não se importou, nada poderia tirar seu contentamento naquele momento.
“ VAMOS PARA O SALÃO DE BATALHAS, EU QUERO TREINAR!” Kai exclamou segurando os dois pelo braço e correndo enquanto ignorava os protestos de ambos sem saber o que acontecera.
...
A tarde passou rápido enquanto os três estavam no enorme salão dedicado exclusivamente aos treinadores. Kai estava empolgada, desafiava todo desconhecido que via pela frente sem medo, não era como se tivesse uma reputação a perder. Oliver apenas assitia da arquibancada conversando com Rafaella e Ayla que encontraram ali. Aparentemente campos de treino são bons lugares para ver pokémons e pessoas diferentes. Já Haru se encontrava perdida em anotações em um caderninho surrado de folhas gastas e capa preta, essa que exibia os kanjis Kantonianos de Flor e Fogo em uma tinta que um dia fora branca.
A garota dos cabelos cinzas batalhou muitas vezes, tantas que perdera a conta. Infelizmente contar o número de vitórias era fácil pois ainda não havia nenhuma, em uma tarde inteira conseguira perder todos os duelos, o que era esperado devido a sua inexperiência mas o suficiente para tirar seu contentamento do mesmo jeito. Após outra derrota na qual Tomy fora subjugado por um grande e parrudo Rhydon ela se cansou daquilo e saiu em direção aos amigos na arquibancada.
“ Você ‘tá’ indo melhor do que eu esperava.” ele tentou a animar com seu jeito torto.
Agradeceu balançando a cabeça enquanto virava uma garrafinha de água a bebendo como se ela mesma estivesse nas batalhas e derramando um pouco em Frosta que se refrescava alegremente enquanto batia as barbatanas.
Olhou ao redor caçando por algum alvo, já batalhara com todos que estavam ali, desde os mais calmos até os esquisitões.
“Já foram todos...exceto..você”. parou encarando Oliver nos olhos com um sorriso maroto o fazendo corar um pouco e desviar o rosto.
Kai saltou de onde estava sentada como se sua bateria tivesse acabado de atingir seu ápice e ela estivesse pronta para uma maratona.
“ Eu e você, dois contra dois, agora!” disse apontando para o rosto dele.
...
Oliver e Kailani se encontravam um de frente ao outro, entre eles a arena desmarcada por linhas pintadas em branco os separava por uns vinte metros. Ayla havia se aproximado para assistir enquanto Rafa fora puxada para servir como juíza, Haru desapareceu na multidão enquanto eles não olhavam indo sabe-se lá pra onde as Harus vão quando ninguém está olhando.
Kai arremessou duas esferas para o alto liberando Rotom e Spheal.
“ É HORA DO SHOW!”
E logo o fantasma girava em volta dela liberando pequenas faíscas enquanto a foca olhava para o rapaz como se pudesse atacar ele mesmo em vez de seus pokemons.
Oliver pensou em quais pokémons deveria usar. Daru era certeza, mas Braviary era forçar a barra um pouquinho. Levou a mão ao cordão em seu pescoço tentando ver se ela iria se opor mas não houve uma palavra, ela era mais orgulhosa do que ele imaginava.
“ Então é assim que vai ser.” pensou consigo. Sacou a pokéball de seu Darumaka e fez um comando para o Axew, que prontamente saltou para o meio do campo, animado até demais com sua primeira batalha ao lado de seu treinador.
“ Bom, vocês terão uma batalha de dois contra dois e...acho que é só né?” ela perguntou olhando para os lados até ver Ayla sussurrando o resto da frase.
“ Ah sim, a batalha acaba quando os dois pokémons de um lado não consigam continuar ou um de vocês desistirem.” disse enquanto fazia um gesto com as duas mãos indicando que começara.
“ THUNDERSHOCK! WATER GUN!” ela não perdeu tempo disparando na largada.
Tomy disparou sobre o campo escolhendo como alvo o dragão adversário e descarregando de seu corpo uma carga elétrica vinda de cima. Já Frosta abriu sua boca disparando um jato de água que mais se assemelhava a um tiro rápido contra Darumaka. O garoto foi pego de surpresa.
O normal seria analisar o oponente primeiro e atacar depois, não?
“ Axew desvie! Daru, Incinerate!” Axew tentou saltar para o lado mas se atrapalhou sendo atingido diretamente pelo raio em sua cabeça. Daru tinha reflexos melhores saltando para trás liberando uma rajada de fogo de sua boca ainda maior que o tiro de água o anulando e atingindo a atacante.“ Agora é nossa vez! Rollout na Spheal e Assurance no Rotom! ”
Axew que ainda estava atordoado após o choque balançou a cabeça e segurou o choro virando-se para seu adversário e correndo contra ele no que parecia uma tentativa de dar uma cabeçada. Darumaka saltou para frente começando a girar muito rápido enquanto se aproximava de Frosta.
“ Ele não pode te acertar Tomy, E ESSE JOGO JOGAM DOIS, ROLLOUT TAMBÉM!”
Tomy esperou pelo momento em que o dragão passaria direto pelo seu corpo e ele poderia atacar diretamente. Mas esse momento não veio, muito pelo contrário, quando o pequeno estava próximo o suficiente um brilho roxo bem fraco envolveu a parte pontuda de sua cabeça acertando o desprevenido Rotom e o mandando direto pro chão.
“ Mas... O quê?” Kai estava confiante em sua estratégia e aquilo era uma surpresa.
“ Você sabe que Assurance é um movimento de tipo Dark, né?” em uma batalha séria entregar suas estratégias seria pura burrice, mas em duelo amigável aprendizado era mais importante do que apenas vencer no final.
“ Tendi.” ela assentiu com a cabeça claramente sem entender.
Enquanto isso ambos Darumaka e Spheal usavam Rollout um contra o outro enquanto se batiam de frente numa disputa de forças. Era como assistir um carrinho de bate-bate em miniatura, mas no lugar dos carrinhos eram esferas furiosas tentando passar uma por cima da outra.
“ Astonish!” Kai não se abalou pelo golpe inesperado e já estava voltando com tudo. Rotom desapareceu em um instante aparecendo novamente na frente de Axew. Seus olhos brilhando em um carmesim intenso assustando até a alma do pobre dragão que nem chorar conseguia, pois estava paralisado completamente pelo medo, ficando parado assim um pouco atrás de onde a outra dupla pelejava entre si.
O rapazote tentou chamar seu pokémon mas não obteve nenhuma resposta.
“Daru, Incinerate enquanto continua girando!”
Novamente chamas foram liberadas da boca do macaquinho, elas o envolviam no sentido em que ele girava, transformando-lhe numa grande bola flamejante, que disputava forças contra a Spheal que começava a ser forçada para trás conforme as queimaduras iam aparecendo.
“ Deixa ele passar!” a garota de cabelos cinzas ordenou quando uma ideia surgiu em sua mente. “ Tomy, prepara aquilo!” o espectro ao ouvir aquelas palavras começou a produzir eletricidade por todo o seu corpo e parecia concentrá-la em um ponto específico.
Até o momento os dois pokémons em giro estavam competindo de frente em um duelo de resistência, mas aquele comando mudou o jogo. Frosta não precisava mais impedir o movimento dele. Com um simples desvio para o lado o pokémon de fogo acelerou direto para o próprio companheiro o atingindo em cheio e o acordando de seu transe.
“ AGORA, ELECTRO BALL! ” toda a energia que havia sido concentrada pelo fantasma se reunia em sua frente na forma de uma grande esfera de energia amarelada que pulsava e soltava faíscas.
“ DESVIEM!” o garoto tentou mas já era tarde demais e não havia como escapar.
A grande esfera foi disparada rápido, mais rápido do que se esperaria de algo daquele tamanho. O golpe atingiu seu alvo perfeitamente, assim como o pequeno Axew que acabara de se tocar no que estava rolando, os engolindo por completo em pura energia e explodindo em seguida criando uma nuvem de poeira no lugar.
Quando a poeira baixou os dois estavam no chão nocauteados enquanto Tomy e Frosta mostravam-se cansados, e meio chamuscados, porém de pé.
“ A vencedora é Kai!” Rafaella disse alto levantando um braço para o lado em que a ela estava.
“EU VENCI!” a menina dos cabelos cinzentos deu um pulinho enquanto corria para abraçar seus pokémon.
“BOA, GAROTA! ” Ayla gritou da arquibancada.
“ Foi uma boa batalha.” Oliver aproximava para um aperto de mão que logo foi ignorado por ela e trocado por um abraço, o deixando sem jeito, nunca fora uma pessoa de abraços mas ela estava tão contente que ele não se incomodou em reclamar.
...
Sob a escuridão da noite as luzes do navio eram um clarão sobre o mar. O barulho da música alta podia ser ouvido de longe enquanto as pessoas bebiam e dançavam no deck superior.
Kailani e Oliver estavam um pouco mais afastados do centro onde a verdadeira festa acontecia, encostados nas laterais do navio. Kai vez ou outra apontava para o céu e dizia coisas sobre as estrelas “...e aquela ali é a Ursaring Maior...”. Ela conhecia bastante coisa sobre estrelas, sempre fora fascinada pelo céu. Falava empolgada sobre como reconhecer uma ou outra constelação, ou os significados de cada nome. Ele por sua vez apenas ouvia impressionado concordando com ela.
“ Ei, pode ouvir algo?” o rapaz perguntou interrompendo o silêncio que os dois estavam após sus conversa.
Ela respondeu que sim.
“Então, eu queria te agradecer por ter me ajudado a encontrar meu Braviary. Eu sei que não agi muito bem naquele dia, estava um pouco irritado por algumas coisas e...” se perdeu em suas palavras mas logo retomou o fio “...por isso eu queria te agradecer, mas não é como se eu me importasse tanto assim...eu só..ah, quer saber? Toma.” tirou de um bolso uma agenda eletrônica vermelha a entregando na mão da garota.
“ Você sabe que não precisa faz...ISSO É UMA POKÉDEX?” os olhos dela brilhavam enquanto segurava o objeto com a maior delicadeza que conseguia com medo de quebrar.
“ Onde você conseguiu?” Ela perguntou.
“ É uma história meio longa...” disse coçando a cabeça enquanto se perguntava onde estava a penetra que ele ajudou, penetra essa que havia sumido de vista há algumas horas. “ Relaxa, eu não daria muito uso pra isso mesmo. É mais útil pra você.”
“PODE TER CERTEZA QUE EU VOU USAR!” disse agradecendo enquanto tateava o objeto com cuidado. As teclas eram macias e o objeto bem construído. Em baixo relevo, escrito em letras minúsculas na parte detrás, a garota leu “Made in Kanto”. Mais curioso porém era que em uma das laterais havia uma parte que parecia ter sido encaixada as pressas, como se alguém tivesse aberto o aparelho e na hora de fechar algo tivesse saído errado. Mas não parecia afetar seu funcionamento.
Apontou o objeto para várias direções analisando o que estivesse pela frente. Kai estava contente, era um presente útil. MUITO útil.
Para ela era quase um sinal dos céus, um pequeno presente de boa sorte do universo lhe dizendo para seguir adiante com seu desejo. Coisas assim não podiam ser coincidência, e mesmo se fossem apenas uma peça sem sentido pregada pela vida ela mesma escolheria o sentido que quisesse e o faria verdadeiro.
Capítulo 7
Sua breve tentativa de se esconder do mundo cheio de seus problemas logo foi interrompida pelo som de batidas rápidas e ritmadas na porta, quem poderia chamar por ele tão cedo? Só conseguia pensar em uma possibilidade, a garota que conhecera a alguns dias e que seria a única pessoa que conhecia a acordar tão cedo sem alguma razão aparente.
Sentou-se na cama e olhou ao seu redor. O quarto era bem simples. Possuía uma cama, um sofá ao lado e uma mini cozinha, tudo no mesmo espaço. O sofá acomodava as coisas dispersas do garoto com sua mochila entreaberta ( inclusive com alguns pertences caídos em seu entorno ) jogada em um canto e seu celular na cabeceira da cama indicava que ainda não passava das oito da manhã. Noutro canto daquela sala um grande pássaro dormia em um ninho improvisado com algumas almofadas tendo debaixo de suas asas duas criaturinhas menores, um Darumaka e um Axew, que repousavam tranquilos.
O garoto se levantou lentamente e caminhou até a porta. Seus cabelos geralmente presos estavam soltos e passavam um pouco do ombro, algumas mechas rebeldes caiam entre seus olhos, mas ele não se importava com isso, muito menos com seu pijama preto e folgado todo amassado.
Girou a maçaneta e para sua surpresa quem estava lá não era Kai mas sim Haru. A garota que conhecera no dia anterior se encontrava parada frente a porta e vestia uma jaqueta preta aberta por cima duma camisa cinza. Calça jeans em um tom azul escuro junto de um par de tênis com detalhes vermelhos completavam seu visual. Ela o olhava séria. Era estranho estar tão próximo dela, sentia-se de frente para uma grande pira, e que se cometesse o erro de se aproximar demais queimar-se se tornaria inevitável.
Ela o encarou de cima a baixo julgando seu estado recém acordado.
— Posso ajudar em algo? – Oliver perguntou seguindo sua frase de um bocejo.
— Não vai me convidar pra entrar? — perguntou.
— Eu preciso mesmo? – olhou desanimado. Algo dizia para si que aquela garota era um ímã de problemas.
Ela continuava o encarando ignorando seu protesto e aquilo começava a lhe irritar.
— Ah, dane-se, acaba logo com isso, entra logo vai. – ele se afastou para o lado, abrindo passagem para ela.
— Obrigada. – ela passou por ele com passos firmes. Parecia o julgar pela maneira que ele simplesmente jogara suas coisas, caminhou até o sofá sentando-se ao lado da mochila jogada e encarando o rapaz.
— Eu não tentaria fazer nenhuma gracinha se fosse você. – o garoto apontou para ela em seguida para os pokémon que acordaram com a conversa e agora olhavam com olhares curiosos para a inesperada visita.
— O que você vai mandar eles fazerem? Chorar em mim? — Ela sorria, achava engraçado como ele desconfiava dela. — Relaxa que se eu fosse te roubar entraria por essa janela aberta em vez de bater na sua porta.
Oliver se irritava com a ousadia dela, mas não tinha como tentar rebater o argumento. Se conformou um pouco com a situação.
— Eu quero sua ajuda dentro do navio. – disse sem rodeios, o encarando séria.
— Você não ia dar um jeito nisso? – ele se sentia cansado só de imaginar o que ela queria dizer com aquilo.
— Eu já dei meu jeito, embarcar vai ser moleza. – falava com confiança em seu plano.
— Como é o seu jeito?
— Isso é segredo, não posso revelar todos os meus truques. – disse entre um sorriso, levando o indicador a boca fazendo um sinal de silêncio. – Entrar vai ser fácil, mas eu preciso de um lugar pra conseguir guardar minhas coisas e passar um tempo enquanto o navio ainda não zarpou. Ficar andando por lá com minha mochila chamaria muita atenção, alguém pode suspeitar.
Ela não estava errada. Se sua figura já era chamativa em uma cidade dentro de um navio seria ainda mais. Oliver nem pensou direito na ideia e logo se decidiu de sua resposta.
— Não, obrigado.
Curiosamente a expressão dela não se alterou. Pelo contrário, parecia prever por uma resposta como essa e já ter vindo preparada para aquilo.
— Eu não esperava que você aceitaria de cara, então trouxe uma oferta mais atrativa para você. – de um dos bolsos internos de sua jaqueta ela puxou um aparelho vermelho que se assemelhava a uma agenda com vários botões e alguns leds, uma Pokédex.
— Eu tenho uma dessas sobrando, modelo de última geração, muito útil pra qualquer treinador. Se você quiser pode ser sua caso me ajude.
Ela balançava o objeto como alguém balança uma bolinha para um Growlithe pidão.
— Olha, eu não tenho interesse em batalhas ou treinar pokémons, eu realmente não teria o que fazer com isso. – a voz do garoto agora passava mais sinceridade do que o habitual desânimo, até certo arrependimento.
Por um momento ela não soube o que responder, sua oferta era tão boa que ela nem pensara na possibilidade de ele negar.
— Bem, você pode dar pra alguém que se interessar por isso, ou pode vender, "cê" que sabe. – ela se levantou do sofá, andando em direção a porta e levando o objeto consigo. – Pensa na oferta e me responde até hoje a noite.
E da mesma forma que chegara ela saiu, deixando o garoto se perguntando o que fora aquilo e como ele conseguia atrair tanta gente louca para perto de si.
Após algum tempo da saída dela o rapaz voltou para cama de onde não gostaria de ter saído jurando pra si mesmo que teria só mais cinco minutinhos de sono sem ser atrapalhado por alguém.
…
Se levantou com um pulo, sentia o suor escorrendo pela sua face. Seu coração palpitava freneticamente e parecia querer sair pela boca. Olhou para os lados em busca de algo, seus preciosos amigos ainda estavam ali. Eles estão bem, foi só um pesadelo, nada aconteceu com seus pokémon. Não conseguiu evitar um suspiro aliviado.
Sentou na cama, sua respiração ainda estava ofegante, malditos pesadelos que continuavam voltando, sempre o mesmo sonho.
Os três pokémon que estavam em um dos cantos do quarto se aproximam dele. Bravi e Daru pareciam preocupados porém já acostumados com o ocorrido, já Axew tinha seus olhos cheios de preocupação, olhava triste e ameaçava cair no choro.
Segurou o menor em seus braços o confortando e dizendo que não precisava se preocupar.
— Eu tô bem pessoal, podem ficar tranquilos. – afagou com a mão livre seus outros dois companheiros enquanto forçava um sorriso.
"Que horas são?", um breve pensamento passa por sua cabeça. Procurou pelo Xtransceiver em busca da informação e o achou jogada próximo a si. “ONZE HORAS?!” Eram pra ser só cinco minutos mas foram três horas, já devia ter perdido o café oferecido pelos centros, uma lástima.
Ficou ali por um tempo brincando com seus companheiros enquanto mexia no aparelho. Atualizou sua timeline sem prestar muita atenção no que postaram, não se importava muito mesmo. Até que algo o chamou a atenção, algumas mensagens não lidas, recentes. Era incomum… Há quanto tempo alguém não lhe mandava uma mensagem? Suas mães sempre ligam quando precisam falar algo importante, então quem poderia ser?
Abriu o Chat-Ot, um aplicativo de mensagens de texto bem popular entre a maior parte da população. O contato salvo simplesmente como "Kai" ao lado de uma foto da garota de cabelos cinzas sentada em um galho de uma árvore alta apareceu em destaque indicando que ela era a última pessoa a lhe enviar algo.
— Ei dorminhoco, tá aí?
— A "gnt" bateu na porta mas "vc" não respondeu.
— As meninas nos chamaram pra ir ver um museu lá no centro. TEM FÓSSEIS EM EXPOSIÇÃO.
— Se você ver isso logo ainda dá pra
nos encontrar no refeitório.
As mensagens tinham mais de duas horas. "COMO EU TENHO UM SONO TÃO PESADO E NÃO OUVI NEM AS BATIDAS E NEM AS MENSAGENS?" se questionou irritado consigo mesmo.
Agora não importava mais, já era muito tarde para acompanhar elas em sua jornada por um museu.
Finalmente se levantou da cama. Em uns trinta minutos tomou um bom banho, escovou seus dentes e pegou uma roupa que não estivesse amassada. Retornou seus pokémon para as devidas pokéballs, exceto o pequenino Axew, que se recusou a entrar preferindo acompanhar de fora apoiado nos ombros do garoto. Por fim saiu do Centro Pokemon.
A cidade já começava a se movimentar e ele se sentia perdido, conhecia alguns lugares que vira ontem e poderia almoçar, mas não sabia ao certo como fizera pra chegar lá, as vezes se arrependia de não prestar tanta atenção nas coisas ao seu redor, sentia que a vida passava diante dos seus olhos enquanto assitia sem reagir.
Decidiu seguir pela avenida principal. Ele estava com fome mas não conseguia tirar da cabeça a conversa que tivera com Haru. Era tudo suspeito demais... Pokédex são itens raros, nem todo mundo consegue adquirir uma, quem é louca a andar com duas por aí? E ainda tentou lhe comprar com isso, alguém que sonha em ser treinador aceitaria na hora, mas esse não era ele, não estava tentado pelo objeto, ao menos não por ele em si, mas a ideia de poder o entregar para alguém sim lhe tentava. Entregar para Kai. Gostaria de agradecê-la por ter aceitado o convite e por ajudar a encontrar seu Braviary. Aquela podia ser uma boa oportunidade para ficarem quites. Mas esses pensamentos o deixavam confuso, não conseguia confiar na garota de cabelos vermelhos que lhe ofertara o item.
Enquanto se questionava teve a impressão de ouvir uma voz. Era como um zumbido de um inseto irritante que continuava a lhe perturbar e parecia chamar seu nome. Virou-se para trás e avistou um garoto de cabelos loiros escorridos e bem arrumados, como se um Tauros tivesse passado um bom tempo apenas os lambendo vigorosamente.
— OLIVER JONES, EU TE DESAFIO PARA UM DUELO POKEMON! – o garoto gritou apontando para ele e chamando atenção de todos na rua.
Ollie teve a leve impressão de já telo visto antes, mas nada veio em sua mente portanto concluiu que se não lembrava não devia ser alguém importante. O Axew em seus ombros inicialmente se assustara mas agora grunhia em direção ao intrometido.
— Não, eu passo. – e seguiu a andar como se nada tivesse acontecido.
— EI, VOCÊ NÃO PODE NEGAR UMA BATALHA COM SEU RIVAL! – protestou o seguindo com passos rápidos.
— Eu nem sei quem é você. — não parecia mentir ao dizer essa frase.
— COMO NÃO? EU SOU O FÉLIX, SEU RIVAL! NÓS BATALHAMOS ONTEM, EU QUERO UMA REVANCHE. – o loiro já se irritava com toda aquela situação. — EU TENHO UM NOVO POKÉMON, VOCÊ NÃO PODE ME DERROTAR!
Oliver parou por um momento e pensou. Tinha uma vaga memória de ter batalhado contra um treinador que usara um Honchkrow, mas nem se importara de perguntar seu nome.
— Ah, era você. É tanta gente barulhenta que eu me confundo. – aquela conversa o cansava tanto, só queria achar um lugar para almoçar em paz.
Oliver seguiu andando desejando que Félix parasse de o seguir, mas para seu azar isso não aconteceu. Por isso decidiu que a melhor coisa a se fazer seria apenas ignorar e seguir a vida. Andou por alguns minutos sendo seguido pelo garoto que continuava a tagarelar sobre coisas como a importância de aceitar os desafios oferecidos pela vida em vez de fugir deles e outras coisas mais, nada que importasse muito.
Os dois chegaram até um restaurante no canto de uma esquina. Haviam algumas mesas na calçada e a porta de vidro possuía uma plaquinha que indicava que o estabelecimento estava aberto.
Adentraram o local, e logo se depararam com mesas de madeira, as quais davam um ar tranquilo para o espaço. Não haviam muitas pessoas, o único que comia ali era um homem sentado em uma das cadeiras mais ao canto. Sua presença chamava certa atenção, tanto por ser alto, como por possuir uma grande cicatriz que cortava desde a bochecha até acima do nariz. Suas feições eram fortes e marcadas, ele não chegava a ser velho mas certamente o tempo não foi gentil com o pobre Lycanroc do mar, devia ter por volta dos trinta anos mas aparentava um pouco mais.
Seus cabelos negros eram escondidos por uma boina de marinheiro com a representação de uma ave no centro, usava camisa social avermelhada e um sobretudo preto por cima, sua calça era da mesma cor. Comia um grande pedaço de carne despreocupadamente vez ou outra dando uma longa tragada em um cigarro. Nenhum dos funcionários tivera coragem de pedir para que parasse com o ato mesmo havendo uma pequena placa indicando "Proibido Fumar" na parede ao lado. Como não haviam outros clientes acharam melhor evitar algum problema.
O homem ao perceber a entrada dos dois no estabelecimento esboçou uma expressão de surpresa e fez um sinal para que eles se aproximassem, mesmo que Oliver reclamasse da presença indesejada de seu autoproclamado rival o acompanhando.
O garoto caminhou até ele e puxou uma cadeira para se sentar.
— E aí tio. – Oliver fez um aceno com a mão despreocupadamente.
O homem terminou de mastigar um pedaço que já estava em sua boca e começou a falar irritado.
— Ei, moleque maldito! Já disse que não sou seu tio, não faça eu me sentir mais velho do que já sou. — reclamava entre mordidas.
— Certo, certo tio. – ignorou completamente o pedido e prosseguiu. – Que cê tá fazendo aqui? Meio raro te ver fora do navio.
— Eu tenho uma vida fora de lá, sabia? – os dois se provocavam mas não pareciam verdadeiramente irritados, aquele era apenas o modo que sua relação acontecia.
— Desde quando? Você é casado com aquela coisa, quando foi a última vez que você conversou com alguém de fora da tripulação?
Enquanto os dois conversavam o loiro fizera um aceno para um dos garçons. Um garoto jovem de cabelo curto e um topetinho apareceu, devia ser novo no emprego pois tremia um pouco. Em sua roupa um pequeno crachá indicava seu nome, "Marcelo".
— Bom dia nobre garçom, gostaria de algo leve para minha refeição, me traga sua melhor salada acompanhada de uma boa taça de vinho Kalosiano, não quero essas coisinhas meia boca que vocês servem para todos, encaminhe o pedido ao chefe.
O garoto anotou o pedido um pouco desengonçado em um caderninho e olhou para Oliver.
— Traz o prato do dia e um copo de refri pra mim, meu chefe. – pediu rapidamente e logo voltou-se para sua conversa.
O rapaz confirmou os pedidos e saiu em direção a cozinha com passos rápidos.
— Você não tá muito ousadinho não? E pra sua informação, eu conheci uma mulher linda. – o capitão John por um momento perdeu-se em seus pensamentos enquanto dava uma longa tragada em seu cigarro.
— Me diz que ela não é uma ruiva alta... – olhava esperando uma resposta
— Quê? Tá louco moleque. – fez uma pausa enquanto se ajeitava na cadeira, parecia querer contar aquilo para alguém a um certo tempo e apenas esperava o primeiro desavisado a lhe perguntar sobre sua vida amorosa. – Eu conheci ela tem alguns meses, numa das pausas em Torom aconteceu uma queda de energia e isso atrasou nossa partida, e ....
Durante alguns bons minutos o homem devaneou lembrando o dia em que a conhecera. Sobre o quão belos e sedosos eram seus longos cabelos cinzas, e de como ela tinha um agradável aroma de mel. Reiterou essas informações mais de uma vez enquanto sorria meio bobo.
Nesse meio tempo o garçom já voltara com os pedidos, uma vistosa salada com frutas e folhas nativas para Félix e uma taça de vinho, e alguma espécie de peixe frito para Oliver acompanhada por um refrigerante alaranjado, os dois pratos cheiravam muito bem.
— Você realmente andou mudando hein, tio? – o jovem não conseguiu conter um sorriso de canto, estava feliz por ele. – Quem diria que aquele velho carrancudo estaria por aí todo apaixonado.
— Só eu? E você, seu puto! – o homem apontou em direção ao jovem que mastigava. – o que você tá fazendo por aqui mesmo? Sair do meu navio é uma novidade, você ficava vagando por lá como se fosse uma assombração. Agora tá aqui cheio de gracinhas, tem até um amigo.
— Nós não somos amigos, somos…
— RIVAIS! – Félix falou abruptamente enquanto ainda tinha comida na boca, o que por sua vez o fez começar a engasgar com os restos. – Eu tô bem…
"Rivais". Há quanto tempo não ouvia alguém dizer isso tão entusiasmado? Breves memórias de sua juventude retornaram, bons tempos em que era apenas um garotinho sonhando em sair em jornada com seus bons companheiros, tempos que não voltariam mais. Mas precisava voltar a si.
— Não liga pro que ele tá dizendo, só resolvi mudar algumas coisas. Alguns imprevisto me fizeram conhecer algumas pessoas.
— Eu ia falar sobre esse Axew aí. – apontou para o dragão sorrindo. – Não era você que tinha desistido da vida de treinador?
— Foi apenas uma exceção, ele estava sozinho...não podia deixar lá... – falou meio relutante.
— Certo, certo. Não quer falar eu não pergunto, mas deixando isso de lado, e então? – a expressão do homem mudara e ficara mais rígida, parecia prestes a falar sobre algo mais sério. – Finalmente decidiu tomar coragem e ir vê-las? Você sabe que elas sentem sua falta.
O garoto abaixou a cabeça, pensativo, talvez até meio envergonhado de admitir algo do qual viera fugindo há um bom tempo.
— Acho que sim. Mas não sei se elas vão ficar felizes em me ve…
Antes que ele terminasse sua frase sentiu a lateral da mão do homem acertando sua cabeça numa alta velocidade. Não bateu forte o suficiente para machucar, era apenas um gesto para que ele parasse de falar, como se repreendesse uma criança que tentava pegar um doce escondido.
— Ei, por que fez isso? Eu não sou mais criança. – protestou levando a própria mão a cabeça.
— Então pare de agir como uma. – o encarava nos olhos. Não estava bravo, porém era fácil confundir, suas orbes azuis pareciam ver até a alma do pobre rapaz. – Você não pode reclamar do que acontece na sua vida e continuar ignorando a necessidade de se adaptar a realidade.
Passado alguns segundos de um silêncio constrangedor o homem fez um gesto e chamou o garçom, já havia terminado sua refeição.
— Eu preciso resolver algumas coisas. Casos de piratas roubando navios tem aumentado esses dias e por isso terei que sair, mas obrigado pela companhia. – John sorriu, estava feliz de passar um tempo com Oliver. O garoto era filho de sua melhor amiga e como um sobrinho para ele, e por tal era bom vê-lo saindo e conhecendo gente nova.
O trêmulo rapazote correu até a mesa entregando uma anotação com a conta dos pedidos.
John entregou uma nota com um Moltres estampando o verso para o atendente boquiaberto e se levantou.
— Vai servir pela minha comida e desses dois aí. – apontou para os dois jovens que ainda terminavam suas refeições. – Pode ficar com o que sobrar como gorjeta.
E caminhou até a porta, mas parou pouco antes de sair, virando-se para Oliver.
— Ei moleque, quando ver elas, dê um abraço na Sarah por mim.
— PODE DEIXAR!
...
As sombras da noite começavam a cair. Conforme as horas avançavam as pessoas voltavam de seus trabalhos e as luzes das casas e postes passavam a iluminar a cidade. Caminhando por uma rua estava o garoto de cabelos negros acompanhando somente de seu Axew. Conseguira dar um perdido em Félix enquanto o loiro se envolvera em uma batalha tentando se exibir, o que gerou a oportunidade perfeita para que saísse de fininho.
Mas estando sozinho se sentia como uma Magikarp fora d'água, estava totalmente deslocado do local e das pessoas com seus destinos já decorados.
As palavras de John ressoaram em sua mente e o incomodavam enquanto andava. Deveria deixar de fugir das coisas? Evitar encarar um problema de frente era bem mais fácil do que tomar alguma atitude, mas podia levar a arrependimentos irreparáveis, e ele sabia disso. Mas como abandonar velhos hábitos? Como largar essa vontade incessante em seu peito de jogar tudo pro alto e fugir pra longe de todos? Não sabia a resposta para aquelas perguntas, mas sabia que não podia manter aquilo pra sempre, precisava tomar decisões ativamente.
— O que de pior pode acontecer em ajudar aquela doida? – murmurou baixinhos olhando para cima pedindo a opinião do Axew em sua cabeça.
O dragão se agarrou em seu rosto e olhou em seus olhos sorrindo e balançando a cabeça alegremente para ele. Mesmo que sua pergunta não tivesse sido de sim ou não decidiu tomar aquilo como um sinal positivo. Poderia pedir para seu tio tentar arranjar uma entrada para Haru, que lhe fez um pedido encabulador mais cedo neste dia, mas a sua curiosidade de vê-la possivelmente fracassando em conseguir entrada falava bem mais alto. No pior dos casos, como um em que ela fosse pega no navio, ele poderia intervir. Mas não antes de se divertir um pouco com a cena.
Não era uma grande decisão, mas era um começo. Eram pequenas decisões como essa que ele poderia ir tomando ao longo do tempo, construindo coragem para enfrentar as consequências dos atos de que se envergonhava.
— PEGA ELE! – uma voz feminina foi ouvida, gritando alto o comando em suas costas.
O pobre garoto nem teve tempo de reagir, enquanto se virava para trás tudo o que vira foi um grande vulto vermelho correndo em sua direção e pulando em suas costas, o jogando no chão com muita facilidade e permanecendo em cima dele.
Então vieram risadas. Não de uma única pessoa, mas sim de várias. Parecia ser um grupo que se aproximava com passos rápidos e eufóricos. O garoto tentava levar a mão até suas pokeballs, mas seus braços estavam presos contra o chão. Também não conseguia alcançar o colar em seu pescoço, muito menos o cinto. Que droga estava acontecendo? Ladrões? Uma gangue?
— Ei, eu acho que ele morreu, não tá se mexendo... – outra voz feminina fora ouvida.
— A GENTE MATOU ELE?! – uma terceira voz.
— Morreu nada, deve ter dormido aí mesmo. – uma quarta voz se fez ouvir, uma que ele conhecia muito bem.
— KAI?! – gritou tentando se levantar e falhando novamente.
— Viu só? Tá forte como um Tauros. – a voz que agora o garoto tinha certeza ser de Kai falou seguida por uma risada.
— Kiara, levanta! – a pessoa que ordenara o primeiro comando disse alto.
Oliver sentiu o peso ser retirado de suas costas, conseguindo se sentar na calçada e entender o que acontecera ali. Seu Axew que estivera preso entre ele e o vulto ameaçava chorar pelo susto, mas tentava se conter nos braços do garoto.
Finalmente, conseguiu olhar quem estava ali. Caminhando juntas estavam Kai, Ayla, Rafaella e Haru. O quarteto era acompanhado por uma grande Arcanine, agora sentada alegremente próxima a elas após sua brincadeira de "pega".
O rapaz piscou pensando ter visto errado, mas forçando um pouco sua visão confirmou algo curioso. Kai e Ayla usavam em uma espécie de grande moletom que simulavam a aparência de pokemons. O de Kai emulava um Tyrantrum, já o de Ayla um Aurorus.
— Pelo amor de Arceus, vocês querem me matar do coração? – ele falava irritado, embora não conseguisse manter por muito tempo essa irritação por estar aliviado demais em não ser morto por uma gangue de pessoas vestidas de dinossauro. Seria ridículo demais.
— Foi só uma brincadeirinha, a Kiara só queria dizer oi. – Haru justificava tentando conter o riso. – A gente te viu passando cabisbaixo e resolvemos te animar.
— Vocês tem um senso de humor duvidoso... E de moda também. – Oliver disse encarando aquelas roupas se perguntando como alguém olhara para aquilo e pensara ser uma boa ideia.
— EI, MEU MOLETOM É LINDO! É UM TYRANTRUM! – Kai dizia em protesto, colocando o capuz e sendo apoiada por Ayla.
Haru e Rafaella mantinham-se a certa distância, elas também não eram grandes fãs daquelas roupas chamativas. E agora o grupo chamava ainda mais atenção das pessoas que passavam nas ruas, porque eles não conseguiam se reunir por um minuto sem criar confusão.
— Mas se você não gostou das nossas roupas não vai gostar disso também... – Kai disse puxando de um bolso o que se assemelhava a um grande e longo dente com algumas marcas preso a um cordão.
— Ei...eu não disse isso. Você lembrou de mim? Eu quero. – o garoto abaixara o tom enquanto se levantava do chão.
— Não! Gastei meu precioso tempo e dinheiro pra comprar esse dente de Tyrantrum e você me trata assim, criticando minhas roupas e gostos? Não, não vou dar! – disse enquanto cruzava os braços.
— Ela não tinha achado essa presa jogada em um banco? – Haru perguntou vendo a cena e sendo acertada por uma cotovelada rápida de Rafaella.
— Mas porque ficar se prendendo ao passado, né? Devemos olhar pra frente, pro futuro! Quem se importa com o que passou, pessoal? – Kai rapidamente buscou mudar o assunto enquanto entregava o pontiagudo objeto a ele. – Eu te disse que lá tinha um esqueleto de Tyrantrum? ELE FICAVA NO CENTRO DO LUGAR E ERA ENORME!
— AURORUS É MUITO MAIS LEGAL E MAIOR DO QUE AQUELE BICHO COM BRACINHOS! – Ayla logo se meteu no assunto.
Oliver agradeceu pelo presente e o guardou cuidadosamente em um de seus bolsos enquanto as duas iniciavam uma discussão sobre qual o fóssil mais legal.
O grupo logo começou a se mover. Ficariam a noite inteira ali dependendo delas mas Rafaella e Oliver concordavam nisso não ser uma boa ideia, mesmo que a discussão se mantivesse enquanto andavam. Kai e Ayla falavam agitadas sobre as coisas que viram no Museu, além de sobre como compraram aquelas roupas e como os fósseis em exibição eram legais.
—...e então a Ayaya perguntou se dentro do âmbar ia ter um Beedril e... – por algum motivo que Oliver desconhecia Kai simplesmente passara a chamar Ayla de Ayaya.
Estavam tão animadas com sua conversa que não notaram quando Oliver deliberadamente reduzira o passo, ficando um pouco para trás, junto a Haru. Ela tinha um sorriso em seu rosto como se já esperasse o que viria em seguida.
O jovem se aproximou mais, então falando baixo o suficiente para que apenas ela o ouvisse.
— Temos um acordo. – foi o que saiu de sua boca.
Capítulo 6
Diário de Bordo #1
Ahoy marujos.
Aqui estamos para mais um Diário de Bordo. Espera. Você não sabe o que é o Diário de Bordo? Como não sabe? Ah, é mesmo. Esse é o primeiro Diário de Bordo. Faz sentido você não saber.
Então permita me explicar, onde estão minhas maneiras? Venha, pegue um barril confortável e aproveite sua viagem enquanto quiser nos acompanhar nessa aventura pelos mares.
A idéia dos Diários de Bordo surgiu numa conversa aleatória no discord com alguns amigos, mas eu realmente curti e pensei que poderia fazer algo legal, então aqui estamos.
Minha idéia é bem simples, um Diário de Bordo a cada cinco capítulos, comentando principais pontos dentre outras coisinhas, então para aqueles que acompanham a história e quiserem algo mais descontraído com comentários deste que vos fala, fiquem a vontade para acompanhar. Não descarto a possibilidade de fazer diários de bordo caso se faça necessário para algum aviso, mas caso ocorra muito provavelmente serão marcados com .5 após o número do último diário lançado.
Agora que estamos entendidos, creio que possamos começar.
●Aviso de Spoiler●
O início da aventura, todos precisamos começar de algum lugar não é mesmo? E bem, que lugar melhor pra se começar do que uma pequena ilhazinha? Eu gosto muito de começos tranquilos, a calma e paz do pequeno vilarejo antes de ser atacado pelo grande mal selado a gerações e cuja a responsabilidade de conter cai justamente numa das crianças dali predestinada pelas estrelas. Ok. Menos. Bem menos. Até agora não tivemos nenhum grande mal, ou equipe vilã tentando dominar o mundo, mas garanto que os antagonistas chegarão, quando for a hora certa.
E então temos a Kai, é curioso pensar sobre ela, parece que foi ontem que em uma call durante a madrugada surgiu uma proposta para escrever uma história, e em algum momento ela surgiu, e agora ela está por aí, se aventurando pelos mares e capturando pokemons, eles crescem tão rápido. Deixando as brincadeiras de lado, espero estar fazendo um bom trabalho criando personagens interessantes para vocês leitores.
Já engatando o tema dos personagens, finalmente o trio está reunido, demorou um pouco mas finalmente eles estão juntinhos, então sim, Harumi é nossa terceira e última companheira de viagem, mas isso é um segredinho só entre quem leu os Diários, ela vem aparecendo desde o final do Capítulo 3 mas só tem contato com os outros dois no Capítulo 5, meio demorado, eu sei, mas espero que gostem dela.
Então chegamos ao capítulo 4, eu particularmente gostei dessa transição entre visões, pelo menos para escrever foi um recurso divertido, difícil saber se na prática foi interessante, mas valeu pelo teste né? Esse cap mostra um pouquinho mais da Haru, e os acontecimento que levam a conclusão do cap 5 que irei falar logo mais. Ainda assim ali na metade nós temos Kai e companhia chegando em Cave, nossa segunda ilhazinha cheia de cavernas e minas, queria mostrar um pouquinho do que temos nela, então que maneira melhor do que jogando uma personagem pra explorar essas cavernas em busca de algo, o que seria esse algo? Ninguém sabe. Mentira. Eu sei. Vocês não sabem. MUAHAHAAHAAHA.
Então chegamos ao cap 5, achou que ia ter continuação direta da perseguição? ACHOU ERRADO CARO LEITOR. Saimos das profundezas de uma grande mina abandonada para uma calma sorveteria. Tão relaxante um sorvetinho para que eles descansem um pouco das correrias da vida, mas como nem só de sorvetes vive o homem, precisamos de televisão, nada melhor que o bom e velho pão e circo mostrando um pouquinho da Aurora em uma de suas batalhas.
Temos também nossa primeira captura, 5 capítulos pra alguém capturar um pokemon( o Rotom meio que já era da Kai então eles só "formalizaram" com uma pokeball), e o escolhido foi um Spheal, admito que demorei um pouquinho pra escolher qual seria a captura dela, eu particularmente gosto muito desse mon e não lembro de ter visto sendo usado em alguma fic, a propósito, spoilerzinho apenas para aqueles que acompanham o DdB, o nome da Spheal é Frosty, sim referência a She-Ra <3
E por fim, mas não menos importante temos a conclusão da saga da Haru que vem sendo mostrada desde o cap 3 e termina no 5, quem imaginaria que ela conseguiria sair da caverna justamente quando nossa dupla estava lá perto? Mas a vida não é um bolinho, eles precisam de desafios, e o que melhor pra testar você do que um grande monstro de aço? Algo engraçado de ser mencionado sobre esse battle royale que rolou contra o Steelix é que ele foi acionado no capítulo 4 e eu realmente achava que eles podiam lutar bem com vantagem numérica, mas quando chegou a hora de escrever eu percebi que eles estavam em total desvantagem, todos os mons em campo tinham desvantagem contra o Steelix, então a estratégia que eles formam no final foi real eu parando e pensando como diabos eles podiam se virar contra um Steelix, espero que não tenha ficado too much poder do protagonismo.
E bom, por este diário é só isso, a propósito, desculpem pela demora nas postagens, mas estou me esforçando para tentar manter pelo menos um capítulo por mês, mas não prometerei, essa quarentena acabou com a mínima organização que eu tinha :v
Nos esbarramos pelos mares,
See Ya.
AdA #01 — Chinatsu
Arte feita por Chinatsu.
Aqui estamos para inaugurar o Ateliê da Ayla, a primeira fanart de Decolore, que emoção, eu não esperava receber uma arte tão cedo, então quando o China comentou que estava fazendo eu fiquei muito surpreso, e no final ainda acompanhei o processo dele desenhando então foi muito especial :3
E que felicidade é ver a Kai em uma fanart, admito que no início eu estava meio receoso quanto a recepção de uma personagem original sem o apego inicial que já se tem a certos personagens, então receber uma fanart dela me deixa muito feliz de verdade.
E eu curti muito mano, ela ficou linda no seu traço, e os cabelos ao vento junto com o mar de fundo deram muito essa sensação de movimento, obrigado mesmo cara :)